Coisas e Coisas


WILLIAMS - UM BOM MANUAL DE TEORIAS DOS MEDIA (I)

Em 2003, era publicado um livro de Kevin Williams (Understanding media theory), que poderemos considerar um manual de tanto interesse para a área dos media e da comunicação como o são ainda os textos clássicos de Mauro Wolf (Teorias da Comunicação) e Armand e Michèle Mattelart (História das teorias da comunicação). Só tem a desvantagem de ainda não estar traduzido.

williams.jpgPara Kevin Williams, os estudos dos media são uma área de estudo académico cujas fronteiras não são claras nem discretas (2003: 19). O âmbito temático é vasto, a mudança rápida de tecnologias reduz a distinção entre os meios de massa tradicionais e introduz novos meios de comunicação de massa, havendo um conflito no terreno entre contributos diferentes no estudo do assunto. O seu livro foca os meios tradicionais da imprensa e da televisão, assim como os novos media, que ameaçam mudar a actividade destes media. O cinema e outros media populares são mencionados mas não centrais aos interesses deste livro porque desenvolveram uma base teórica separada dos outros media.

A teoria pode ser aplicada a diferentes etapas do processo da comunicação de massa – produção, conteúdo, recepção e efeitos – do mesmo modo que a relação entre eles e o impacto dos media e a comunicação de massa na sociedade.

Pode também aplicar-se a diferentes níveis, da compreensão comum do papel dos media nas teorias que informam o modo como os jornalistas trabalham, e a teoria académica, que é o principal foco do livro de Williams. O debate central reside nos efeitos dos media, na sua representação do mundo, nos factores que moldam a produção das mensagens dos media, na natureza das audiências que consomem estas mensagens. O impacto mais amplo dos media na sociedade é discutido com atenção particular dada ao papel dos meios de massa nos processos de democracia e globalização.

A compreensão da teoria dos media também exige o conhecimento dos teóricos dos media e as condições em que efectuaram o seu trabalho. As pressões e mudanças que enfrenta a disciplina moldam a natureza do debate e os modos como se teorizam os media e a comunicação de massa. Finalmente, há o papel e o objectivo da própria teoria. A teoria não se isola da vida quotidiana. Pode ter um número de formas e operar num conjunto de níveis mas é uma componente essencial de conhecer o mundo em que vivemos. Sem teoria, a investigação não é possível e reduz-se o conhecimento sobre como actuar no mundo. Entende Williams que as pessoas nas organizações jornalísticas manufacturam o que aparece nos media (2003: 119). Quem são estas pessoas, como trabalham e a natureza das organizações onde trabalham são factores importantes no registo do conteúdo dos media.

A investigação sobre as organizações mediáticas e o trabalho dos media assume-se em três níveis: individual, organizacional e no meio sócio-económico e cultural mais vasto. A cada um destes níveis é possível identificar um contributo teórico correspondente. Há académicos que adoptam um contributo "centrado no comunicador", com realce para o conhecimento geral, a experiência, as crenças e valores, as rotinas de trabalho dos jornalistas, como centrais para explicarem como trabalham os media e o que produzem. Outros académicos aderem a um contributo "centrado na organização", que explica o conteúdo dos media pelos modos como os media organizam o trabalho, os papéis e as rotinas desenhadas pelas organizações jornalísticas e que os trabalhadores individuais seguem. Outros académicos ainda sugerem que factores externos ao trabalho individual e à organização moldam a produção e o conteúdo dos media (Williams, 2003: 120). Vêem as outras instituições sociais, a tecnologia e as fontes de informação do mesmo modo que a cultura mais em geral como cruciais. Todas estas perspectivas contrastam com a compreensão de senso comum que os media reflectem simplesmente o que se passa à volta deles (teoria do espelho).

Central a estas perspectivas é a questão de quem exerce o controlo sobre o que se vê, ouve e lê. Na teoria dos media, o debate é examinar em termos de estrutura e actividade. Qual a autonomia que têm os jornalistas? Que liberdade têm as organizações mediáticas para atingir os seus objectivos? Qual a extensão pela qual os media moldam as estruturas sociais?

As diferentes perspectivas teóricas dão respostas diferentes aos condicionamentos estruturais, opostos à acção humana, ao registo da natureza das organizações mediáticas e ao trabalho dos media. O fornecimento de evidência empírica de apoio a qualquer uma das respostas está limitado pelo vasto conjunto de investigação concentrado num tipo de organização mediática: a organização noticiosa. Apoiada no estudo do jornalismo, muita da teorização na produção mediática realça o papel dos media na manufactura ou construção da realidade. As teorias da organização vêem que o conhecimento que as pessoas adquirem do mundo à volta delas através dos media não é o produto de reprodução do que ali está a acontecer, num modo directo e sem problemas, mas um reflexo de como trabalham as organizações mediáticas e como o fazem individualmente os jornalistas.

Leitura: Kevin Williams (2003). Understanding media theory. Londres: Arnold

[continua]



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