Coisas e Coisas
ESQUENAZI - PARA CONTINUAR A LER DEVAGAR"Quando se trabalha com um produto complexo, nada impede que se traga à luz grande número de camadas de sentido, tanto mais que uma interpretação conhecida é, frequentemente, origem de muitas reinterpretações. A obra torna-se um palimpsesto, uma história dos públicos e das suas preocupações: o objecto da análise é a maneira como a comunidade se determina perante a obra" [Jean-Pierre Esquenazi (2005). "O sentido do público". In José Carlos Abrantes (coord.)
A construção do olhar. Lisboa: Livros Horizonte e CIMJ, p. 110].
Sabia, de antemão, do encantamento deste texto inserido no livro coordenado por José Carlos Abrantes e que aqui referi nos passados dias 15 e 16 deste mês. De que fala Esquenazi, autor que eu já apresentei, quando escrevi sobre
Sociologie des publics, a 23 de Agosto último? Ele fala de obras cinematográficas mas também de televisão, da recepção (logo de audiências) e das múltiplas leituras, como indica o parágrafo acima inserido.
Esquenazi parte de uma posição polémica: o conceito de público tem sido o parente pobre da teoria do cinema. Aí, ele destaca o modelo de construção do
star system como resultado inicial da associação do público à produção. E enuncia o peso dos serviços de publicidade dos estúdios na promoção (e aceitação) dos filmes - a sua popularidade. A uma abordagem comunicacional ele junta outras: quantitativa, ontológica, artística e baseada na massificação. Nesta última, é particularmente duro para com Horkheimer e Adorno: "os autores não se limitam a acusar o capitalismo, origem do conceito de «indústria cultural»: condenam todos os seus produtos, argumentando que um produto fabricado com o único intuito de agradar ao público não pode despertar o interesse de uma pessoa culta. Extraem, pois, como consequência que o público não só é manipulado pelas indústrias culturais como também é conduzido a uma espécie de embrutecimento. Recordemos o desdenhoso comentário dos autores: «Um público de gente que ri é uma paródia da humanidade»" (Esquenazi, 2005: 99-100).
Depois, Esquenazi propõe olhar o problema do público com novos olhos. E apresenta três novos princípios: 1)
continuidade (não se pode isolar a recepção das condições de produção de filmes e telefilmes), 2)
multiplicidade (reconfiguração da recepção com actos distintos - os públicos mudam, os olhares mudam) [logo: há públicos e não um só público], 3)
actividade (o público não é passivo face ao produtor, mas dispõe de informação de contexto, com críticas ou declarações de um autor, e actualiza o tecido fílmico - o que vê - com a sua própria experiência). O que significa que o espectador, na sua interpretação, atribui uma intenção à produção.
O seu magnífico texto (14 páginas) ainda se debruça sobre aquilo que designa como problemas actuais da recepção. Onde não deixa de focar o fenómeno dos fãs, completando, inteligentemente, as perspectivas mais conhecidas e produzidas em língua inglesa. Escreve ele: "Numa sociedade dominada pela velocidade e pela pluralidade de gostos, aparecem produtos que despertam em comunidades mais ou menos importantes um entusiasmo tão vivo quanto provisório" (2005: 105). Para o autor, os fãs não são vítimas de ciladas das indústrias culturais, mas exprimem, nos produtos que são objecto de culto [o
fandom inglês], uma forma de vida próxima da que é vivida pela comunidade em questão.
Se um grupo industrial pensa que um produto cultural atinge o público de um dado modo,
os públicos (e não um só) apropriam-se desse produto cultural, não se deixando enganar. Constroem-se outros olhares, afinal o tema que reuniu Esquenazi e outros investigadores.
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