PÚBLICOS E AUDIÊNCIAS
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PÚBLICOS E AUDIÊNCIAS



Na altura do seu lançamento (Novembro último), fiz alusão ao livro organizado por José Carlos Abrantes e Daniel Dayan, Televisão: das audiências aos públicos, ideia germinada após o colóquio realizado pelo CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo), em 2000, na Fundação Calouste Gulbenkian. José Carlos Abrantes desafiou Daniel Dayan a criar uma tipologia de públicos e promoveu um curso no mosteiro da Arrábida em 2001. Na Gulbenkian, Dayan falara de públicos de televisão. Na Arrábida, Dayan falou de quase-públicos e outro investigador francês vindo da área das imagens do cinema (Jean-Pierre Esquenazi) expressou a perspectiva de não-públicos. No curso da Arrábida estiveram outros investigadores de nomeada internacional, como Todd Gitlin, John Fiske e Dominique Mehl.

Esta incursão de autores, em especial os de língua francesa, pela área dos públicos havia de gerar mais fortuna. Não se pode dizer que o colóquio e o curso no nosso país tenham sido determinantes, mas encontram-se textos posteriores que abordam isoladamente a problemática dos públicos. Jean-Pierre Esquenazi publicou em 2003 Sociologie des publics, traduzido para português no ano passado (e que eu fiz uma apresentação na altura). Esquenazi articula o termo público com as várias ciências sociais e diversas correntes culturais e etnográficas e literárias, dando conta da riqueza do vocábulo segundo contextos sociais e culturais distintos.

Já em 2005, em inglês, Sonia Livingstone coordenava uma obra intitulada Audiences and publics: when cultural engagement matters for the public sphere. Será arriscado dizer que esta última obra partiu da discussão científica em Portugal, mas é de destacar que, em dois textos ali inseridos, pontificam Daniel Dayan e Dominique Mehl. E, se em língua francesa, há uma defesa do conceito público enquanto dimensão racional, argumentativa e participativa e de audiência como ver ou ouvir televisão, verifica-se que Sonia Livingstone afina pela mesma medida, como comprova o interessante texto final onde público e audiência são trabalhados enquanto palavras com uma origem, significado e camadas de conotações em vários países europeus: Reino Unido, França, Eslovénia, Grécia, Dinamarca e Alemanha (pretendo voltar a isto).

No texto de Dayan incluído no livro coordenado por Sonia Livingstone, há uma referência bibliográfica curiosa. Dayan fala de um livro comum a si, a Elihu Katz e a Mário Mesquita, editado em 2003 pela Minerva com o título Televisao, Publicos [sem acentos, como está no livro]. Creio haver um erro de Dayan pois saiu um livro de Dayan e Katz intitulado A história em directo (Media events, no original) em colecção de livros dirigida por Mesquita. O que é mais um elemento a indicar a importância de encontros e livros em Portugal sobre a problemática dos públicos.














Da colecção de livros aqui seleccionada, a antologia Audiences studies é um exemplo clássico da perspectiva anglo-americana e que se distingue do livro europeu e continental dirigido por Sonia Livingstone. Em Audiences studies, agrupam-se as audiências a partir de entradas: 1) mudança de paradigma, dos efeitos para os usos e gratificações, 2) pânico moral e censura ou a audiência vulnerável, 3) leitura como resistência ou a audiência activa, 4) espectador e audiência ou teoria do ecrã, onde emerge um texto de Laura Mulvey, 5) audiência e fãs, com as ideias de textos de culto e comunidades, 6) audiências femininas, 7) comunidades interpretativas, com nações e etnias.

Finalmente, há uma identidade entre o livro dirigido por Olivier Donnat e Paul Tolila, (Le(s) public(s) de la culture, e o organizado pelo Observatório de Actividades Culturais, Públicos de cultura. Ambos resultam de colóquios, onde a observação empírica ali apresentada aponta para mudanças (ou ausência de) nas hierarquias culturais atendendo a idade, género, classe, habilitações literárias, geografia e tipologia de emprego. Disparidades nestas representações equivalem a consumos culturais distintos, simultaneamente heterogéneos (as classificações de públicos cultivados e displicentes no livro português) e homogéneos (caso das características do mesmo público cultivado ou retraído, segundo a nomenclatura do Observatório de Actividades Culturais). A uma irresistível ascensão das práticas audiovisuais, de grande massificação, correspondem, por oposição, práticas culturais de elite, como o consumo de ópera e de música clássica. Em que se coloca sempre a questão da constituição (e manutenção) de novos públicos em práticas culturais mais intelectuais. Daí a necessidade de estudar eventos como o Porto 2001, o Festival Internacional de Teatro de Almada ou a Expo'98.



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