Coisas e Coisas
"SE O ESTUDANTE COPIOU INTELIGENTEMENTE, MERECE PARABÉNS"
É isto que diz Umberto Eco, no seu texto publicado ontem na revista "6ª" do Diário de Notícias. De certo modo, veio desdramatizar o recurso cada vez mais frequente da internet nos trabalhos dos estudantes, daquilo a que chamamos correntemente de "corta e cola".
O professor italiano começa o seu texto por abordar a questão da Wikipedia, enciclopédia da internet escrita directamente pelo público. Tal acarreta duas situações: 1) quem escreve pode introduzir erros e os mecanismos de correcção nem sempre são empregues, por desconhecimento de rastreio, 2) a Wikipedia é um manancial para recolha de informação por estudantes menos escrupulosos que de lá retiram a informação mas não indicam a origem.
E, daí, Eco encaminha-se para analisar o modo como os estudantes a usam: "nós sabemos agora que os estudantes muitas vezes evitam consultar livros de estudo e obtêm as suas informações exclusivamente na rede". E continua: "os jovens limitam-se a copiar o que encontram na rede. Quando copiam de um sítio que não seja fidedigno nós partimos do princípio que o professor se irá aperceber que eles estão a dizer disparates. Mas é óbvio que quando se lida com assuntos altamente especializados é difícil determinar imediatamente se o estudante disse alguma coisa de falso".
Umberto Eco acha, para concluir o seu exercício de retórica, que se devem premiar aqueles alunos que copiam bem dos sítios da rede competentes. Aqui, eu paro para reflectir. Faço uma pergunta: como é que se pode premiar um aluno se o próprio professor não tem a garantia de: 1) conhecer o sítio de onde o aluno retirou a informação, 2) perceber como uma informação é trabalhada num sítio e replicada em outros sítios, perdendo a qualidade e permitindo a introdução de ruído ou lixo. Copiar na rede amplia, tão só, todo o processo de aprendizagem e transmissão de conhecimento. Até agora, era o pedagogo que passava a informação, apesar de nós não sabermos até que ponto ele distorcia o conhecimento. Agora, pela liberdade de opção e pela oferta quase infinita de informação, o problema é a abundância desta última. No meu entendimento, precisamos de ter filtros, ou entidades credíveis que nos indiquem o que é válido ou não.
Talvez seja aquilo a que Eco se propõe: lançar um trabalho do tipo "Pesquise Na Internet Uma Série De Artigos Não Fidedignos Sobre o Assunto X e Explique Porque É Que Não São Fidedignos". Complicado, não?
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