Coisas e Coisas
Sumertime!
Dias desses, assistindo a TV, vi um homem-bomba
Era verão.
Por mais que não quiséssemos, era verão.
Engraçado como a temperatura da gente muda durante as estações.
As pessoas na rua, andando pra lá e pra cá.
Lojas abertas...
Bares. Supermercados.
O mundo girando.
Tanto barulho que ficava quase impossível pensar.
Tanto barulho no mundo.
Tanto barulho.
Comecei a construir um lugar para ficar tranqüilo.
Paredes brancas.
Uma casca protetora.
Uma aparência de paciência.
Um castelo de rivotril.
Um refúgio de ritalina.
Litium.
Componentes químicos.
Torpor.
Dormir às cinco da manhã e acordar às quatro da tarde.
Tudo para fugir do calor.
Tudo para fugir do verão.
Dias desses, assistindo a TV, vi um homem-bomba.
Um desses que andam de terno e gravata.
No verão.
Um desses que tem seus segundos de agonia quando sai do escritório com ar refrigerado e entra no carro.
Com ar refrigerado.
Um desses que tem seus segundos de pavor quando fica preso no tráfego.
Com o ar refrigerado ligado.
Um desses que passa mais frio no verão do que eu na Suiça.
“SE” algum dia eu fosse visitar a Suiça.
O homem-bomba da TV estava dando uma entrevista.
Estava ao lado de sua esposa perfeita.
Que chorava perfeitamente sincronizada com as falas do seu marido perfeito.
Ele agradecia perfeitamente a todos aqueles que haviam enviado seus mais sinceros e perfeitos sentimentos nessa hora tão difícil.
Ele não chorava.
Ele construía uma bomba relógio sem horário pré-determinado.
E não sabia.
O problema desse homem era não saber.
O dia em que ele explodir, todos acharão que foi um acidente.
Assim como foi um acidente a morte de sua filha.
Dentro da sua ingenuidade, o homem-bomba, que não sabe que é um homem-bomba, acha que está construindo uma casca que o protege.
Dentro de sua ingenuidade ele acha que, sua casca é suficientemente forte para protegê-lo de todas as intempéries.
Ele acredita piamente que escondendo sua essência dentro de um círculo fechado está se resguardando de todos os problemas.
Na verdade, o homem não é o problema
O problema somos nós.
Nós, que na ânsia de saciar nossa fome, nos achamos no direito de romper sua casca, separar suas partes e em muitas ocasiões, fritá-lo.
Dias desses, assistindo a TV, vi um homem-bomba.
E me vi. Ali. Nele.
Nas suas paredes brancas.
Na sua casca protetora.
Na sua aparência de paciência.
No seu castelo de rivotril.
No seu refúgio de ritalina.
Litium.
Componentes químicos.
Torpor.
E então eu entendi.
Tudo segue seu curso.
Eu mesmo sigo meu curso dentro dessa coisa que chamamos de vida.
Nosso problema é não conhecer a humanidade.
Tenho que admitir que não estou tendo muito sucesso.
Eu só quero o meu silêncio de volta.
O silêncio.
Eu só quero a paz.
Deixar que meus últimos momentos sejam imagens tranqüilas .
Gravadas em uma câmera que não sei precisar onde fica.
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