Coisas e Coisas
Feliz, pra Sempre!
...como num filme romântico!
Foi assim que definimos nosso encontro. Suave. Sensual. Sem acontecimentos após o "felizes para sempre". Aconteceu somente o que tinha que acontecer. Seguimos claramente o roteiro pré-estabelecido. Logo nós, que nunca fomos muito chegados às coisas corriqueiras. Gostávamos do inesperado. Gostávamos de surpresas. Chegar de maneiras inesperadas. Encontros furtivos e explosivos até. Mas, dessa vez, não. Dessa vez tudo havia sido planejado com antecedência. Não era para acontecer nada imprevisto que pudesse atrapalhar o andamento do proposto.
Primeiro foi o banho. A água morna passava desde a nuca até os cotovelos. Era como se pudesse sentir partes do corpo que nunca havia sentido antes. As mãos acariciando a nuca, descendo pelo peito, passando pelas costelas até chegar à virilha. Não era a sensação do sexo. Não era uma carícia sexual. Era a pura sensação do tato. Engraçado como o corpo sabe que algo está pra ocorrer, pensou. No momento em que esfregava o corpo para retirar todos os resquícios do ato, parecia sentir os poros abrindo-se. Talvez fosse um efeito da água quente, mas no fundo, acreditava que era o profundo relaxamento que havia conseguido obter. Tudo na vida é uma questão de técnica. Sabendo tocar na hora certa o ponto certo, tudo acontece de forma relaxada e precisa. Caso contrário, acontecem espasmos que deixam marcas. Que deixam alguns resquícios de tensão. Nessa noite isso não aconteceu, pensou novamente. Nessa noite tudo foi perfeito.
Após o banho, houve uma pequena pausa para o descanso. Nessas pausas é que pensamentos indesejados chegam. Será que está tudo saindo correto? Era isso que se esperava que acontecesse? É incrível a fraqueza de espírito dos humanos. Qualquer ruído na hora errada, qualquer suspiro num momento inesperado e já desconfiamos de todo um planejamento. Na maioria das vezes não acreditamos que tudo pode ser simples. Que, no fundo, no fundo só acontece o que queremos que aconteça. Mesmo as falhas são premeditadas. Mesmos nossos fracassos são programados por nossos mais profundos desejos. Quando falhamos é porque em algum lugar de nós, desejamos ser descobertos. Nós somos nossos piores inimigos. Ninguém, mais do que nós mesmos, sabe a maneira correta de sabotar nossos planos. Até contra isso é necessário se precaver. Criar um plano contra auto-sabotagem. Mas, isto já estava previsto. Havia comprimidos extras para esse tipo de contratempo.
Após o descanso necessário, causando o resfriamento preciso, foi o momento de cerrar. Pedaço por pedaço. Foi construindo seu pequeno museu de anatomia particular. As cabeças ficariam guardadas nas prateleiras de cima. Alí poderiam olhar para todo o ambiente. Os braços ficariam nas estantes de vidro.
Alguns ainda conservariam a pele, outros não. Poderiam servir para um estudo muscular. Os troncos seriam jogados fora. Nunca teve muito interesse por troncos. Não gostava dos órgãos, mas tinha uma verdadeira adoração pelos membros superiores e inferiores. Achava-os perfeitos. Mesmo aqueles que tinham algum tipo de mau-formação. Sabia distinguir, com precisão, as modificações causadas pelo uso daquelas que eram genéticas. Sabia que essas diferenças é que tornavam tudo mais pessoal. Íntimo. Único. As pernas ficariam penduradas. Como se ainda pudessem caminhar. Prontas para a ação que realizaram durante anos. Algumas mais, outras menos, é verdade. Quando estava tudo separado e arrumado para a exposição, há que fazer um tratamento para a conservação. Detestava essa parte. O processo de embalsamamento retirava a textura natural das partes do corpo. Era como se elas só deixassem de viver neste momento. Para isso tomava mais dois comprimidos. De cores distintas que pareciam lutar dentro de sua cabeça. Mas, mesmo estes comprimidos, nessa noite, não fizeram muito alvoroço dentro de si. Essa noite havia sido perfeita.
Nessa noite, ele passaria de autor para obra. Nessa noite ele deixaria de ser aquele que carregava tanta angústia dentro de si e passaria a ser, apenas, mais cinco peças de sua coleção. A coleção ainda seria sua. Ele estaria alí com ela, eternamente. Sua cabeça seria a número 65. Seus braços seriam o 118 e 119, respectivamente o direito e o esquerdo. Suas pernas seriam a 97 e 98. Nunca entendeu porque era mais difícil colecionar as pernas. Ao contrário dos braços, elas pareciam não se ajustar esteticamente ao resto da coleção. Várias foram descartadas. Em número muito maior que os braços. Em algum momento do processo temeu que algum de suas partes fosse descartada. Mas seu filho havia aprendido a lição com grande habilidade. Estava pronto para assumir sua coleção. Seu golpe com a navalha em seu pescoço foi dado com tanta suavidade e doçura que, já, neste momento, pôde descansar em paz. Feliz, pra sempre!
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