...à flor da pele...
Coisas e Coisas

...à flor da pele...









"Ando tão à flor da pele,
Que meu desejo se confunde
com a vontade de não ser.
Ando tão à flor da pele,
Que a minha pele
tem o fogo do juízo final"

(Flor da Pele / Zeca Baleiro)



Quando suas presas rasgaram a pele do meu ombro, eu não senti.
Quando suas unhas perfuraram a pele das minhas costas, eu não senti.
Quando seu corpo pesou sobre mim, dificultando minha respiração, eu não senti.
Quando, no momento do orgasmo, sua força duplicou e houve todas as contrações possíveis... Eu não senti.



Quando a porta fechou, vagarosamente, sem fazer ruído. Quando eu só pude olhar suas costas se distanciando de mim. Quando o contato não era mais possível. Quando suas presas e unhas ficaram inalcansáveis. Quando minha respiração pareceu desaparecer. Quando não houve orgasmo. Então eu senti! Senti meu corpo gelar e um inverno sem fim começar. Senti que minha vida se transformava em uma música triste. Senti que um looping insuportável se instalava no Cd player. E mesmo que houvesse palmas na gravação, elas logo eram substituídas pelo tom agudo da canção. As canções de amor desfeito sempre são agudas. Senti que deveria parar de assistir TV, pois todos os programas cafonas agora seriam escritos para mim. Senti que o comercial de margarina tinha ficado mais sem sal. Senti que os castelos de areia, mesmo com data marcada para desabar, fazem um ruído ensurdecedor para quem está prestando atenção. Senti! E isso, se por um lado era doloroso, era também uma benção. Era uma benção não ter que anular-se perante seu egoísmo. Era uma benção ter um tempo particular. Era uma benção poder fazer coisas que haviam sido deixadas de lado. Era uma benção poder transformar isto em ficção. Só os que sentem e não estão embriagados com a felicidade sem fim podem transformar-se.



Eu fui aquele que amou e que perdeu.
Eu fui aquele que não aprendeu nada com a relação anterior.
Eu fui aquele que chorou, jurou de morte, disse que odiava e no fundo nunca esqueceu.
Eu fui aquele que continua sendo. Patético. Romântico. Trágico. Exagerado. Esquecido. Negligente. Amável e amante. Escritor e escrito. Narrador e narrado. Criador e criatura. Humano, as vezes. Insano, quase sempre. O que sempre cai e que nunca desiste. "Um cão sem dono. Um menino. Um bandido. As vezes me preservo, noutras suicido."






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