Coisas e Coisas
VIOLÊNCIA NA TELEVISÃO
A entidade anterior à ERC (a Alta Autoridade para a Comunicação Social) encomendou ao ISCTE um estudo sobre a violência na televisão portuguesa (1997). O resultado seria editado em 2000, com o título Avaliação da violência na televisão portuguesa. Programação 1997.
Os objectivos incluiam: 1) avaliação do grau de violência da programação dos quatro canais generalistas, 2) caracterização da violência emitida, e 3) comparação entre canais no que respeita ao grau de violência e ao seu contexto. O estudo dividiu-se em duas partes, a primeira incidindo sobre conteúdo da violência na programação ficcional e recreativa para adultos (filmes, séries dramáticas ou cómicas, telenovelas, variedades) e para crianças (desenhos animados, séries). A segunda parte incluiu a análise à programação informativa (noticiários, documentários, talk-shows) e publicidade. Para análise, os autores desenvolveram um programa informático (Video Package for the Social Sciences, VPSS).
Jorge Vala, Luísa Lima e Rita Jerónimo partiram de pesquisas anteriores, as quais revelam que a violência na televisão é uma fonte importante de aprendizagem de comportamentos agressivos e contribui para uma perda de sensibilização à violência e suas consequências. Mas, em muitas das pesquisas, essa influência é indirecta, no tocante à televisão. A reflexão nas ciências sociais sobre os efeitos dos meios de comunicação de massa foi marcada por dois paradigmas, o dos efeitos limitados, desenvolvido por Lazarsfeld e colegas, e o da comunicação persuasiva, de Hovland e colegas. Aquele dizia que a influência dos media sobre as audiências rondava os 5%, este os 50%. A hipótese dos efeitos mínimos teve mais impacto durante cerca de 30 anos, mas, em 1978, num congresso sobre o estudo da comunicação social, identificou-se a necessidade de voltar à teoria da maior influência dos media nas audiências.
Referindo as conclusões do estudo português, das 187 horas de programação recreativa estudada, seriam identificadas 5705 interacções violentas. Os autores contabilizaram 7% do tempo ocupado com cenas de violência. Dito de outro modo: um espectador médio, exposto a 2,5 horas de televisão diária, vê, no final de um mês, 2250 interacções violentas e 225 mortes. A violência é particularmente elevada em filmes e desenhos animados, com os canais comerciais (SIC, TVI) a apresentarem mais destas cenas que os canais públicos (RTP1, 2:). Já quanto à violência na publicidade, cerca de 1,3% do tempo é ocupado com cenas de violência (conjunto de 9141 peças publicitárias, num total de 50 horas). Finalmente, em termos de violência representada na informação, os autores analisaram 225 programas num total de 84 horas de programação e concluiram pela existência de 785 sequências violentas. 38% destas sequências incluem a visualização ou referência verbal a mortes. A violência, num programa de informação, corresponde a falar de agressões físicas (26%), mostrar imagens de violência (15%) e discursos orais sobre acidentes ou catástrofes (12%).
A violência na programação é mais elevada na destinada a adultos e muito menor na publicidade. Contudo, na programação para crianças ela apresenta uma violência superior à destinada para adultos (10% de densidade). Estes dados levam a uma conclusão mais geral: a violência é representada na televisão portuguesa com maior percentagem que na americana mas de nível equivalente ao da francesa.
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