Tipos manjados da grande imprensa paulistana – parte 2
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Tipos manjados da grande imprensa paulistana – parte 2


Kelly Cristina, 42 anos, editora de Geral, bipolar, insegura. Acha que todo mundo pensa que ela só chegou à chefia pela amizade de muitos anos com o diretor de redação. Para garantir respeito à hierarquia, adota linha dura com os repórteres. Em alguns momentos, abusa de seu poder; em outros, é dócil e maternal. Estressada, desce vários andares 15 vezes por dia para fumar. Às vezes, trabalha com sapatos de modelos diferentes em cada pé.

Augusto, 24 anos, foca viciado no jogo War, sonha ser correspondente internacional. Para começar vale qualquer parte do mundo, como Caracas, mas se for em Paris melhor. Adora viajar, estudar idiomas e geopolítica internacional. Quer cobrir guerra, entrevistar algum líder político. Hoje, faz matérias sobre agricultura. Está de saco cheio de safras e entressafras, mas sabe que é só uma fase. Adora invadir o Alaska por Vladivostok.

Seu Antoninho, 60 e muitos anos, repórter policial há quatro décadas. Estável, não pode ser demitido. Chega e vai embora sempre nos mesmos horários. Raramente escreve uma matéria. O único com cadeira cativa, onde pendura seu velho paletó de tergal da Ducal; no assento, uma almofada para aliviar as hemorróidas. Homem quieto, é tido pelos jovens como uma entidade espiritual. Costuma tirar um cochilo na redação.

Talita, 23 anos, repórter de Variedades, recém-chegada de Votuporanga. Não admite ter sotaque do interior. Detesta o apelido de Cabocla e a fama de boa moça. Faz planos para despirocar. Vai a todas as festas esfumaçadas em casa de jornalista. Está louca para tomar um porre de vodka Orloff. Se julga supermoderna. Sonha morar sozinha num apê no centrão. Hoje, ainda vive com uma tia viúva, dois cães e três gatos.

Gustavo, 39 anos, redator de Economia, bonitão e maior pegador da redação. Metrossexual, depila o peito e adora cremes faciais. É discreto e bom de papo. Marca encontros no café pelo MSN. Prefere as mulheres que dão na primeira noite. Não se envolve afetivamente com ninguém. Solteirão, mora com a mãe, que nunca foi vista pelos amigos. Para alguns, a velha está empalhada. Outros dizem que ela é a senhora Bates, do filme Psicose.

Luís Otávio, 46 anos, editor-assistente de Esportes, homem sério e educado. Usa óculos, se veste bem e faz a barba todos os dias. Cabelo aparadíssimo. Trabalha após o fechamento. Não fala palavrões. Nem mesmo um “merda” de vez em quando. Casamento estável. Ama a mulher, que também trabalha no jornal. Não suporta cigarro. Bebe socialmente. Não vai a happy hours. É muito certinho. Nem parece jornalista.


Leia também: “Tipos manjados da grande imprensa paulistana – parte 1”



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