Coisas e Coisas
SOBRE O JORNALISMO COMO PROFISSÃO MUTANTE
O texto de Paulo Querido no Público do passado sábado sobre jornalismo é um contributo importante para a compreensão do jornalismo de papel. Escreve ele, em dada altura, que, quanto mais banda larga disponível, haverá maior quebra nas vendas dos jornais. Num outro sítio, escreve que o emprego no jornalismo tende a ser mais freelance que o emprego com garantias e salário fixo. Escreve ainda sobre os pequenos editores (como os blogues), a publicidade e a maturidade dos jornais gratuitos - que são, no fim de contas, jornais de papel. Embora de modo mitigado (e compreendo-o muito bem), Paulo Querido (Mas Certamente que Sim) anuncia uma nova tendência possível: a par de despedimentos, há também contratações.É um artigo preciso e corajoso. O qual me obrigou a pensar, eu que tenho responsabilidades no ensino de jovens que escolhem precisamente esta profissão (ou arco de profissões em torno dos media). Que direi aos meus estudantes? Que têm o desemprego ou a não entrada na profissão como perspectiva mais provável? Lembro-me de um artigo recente de Vasco Pulido Valente, extremamente ácido, afirmando que o jornalismo é um curso muito vago (a propósito de um grau académico da candidata à vice-presidência americana), o que causa mais dúvidas e perplexidades a quem se candidata ao curso universitário e à profissão.Felizmente que Paulo Querido não tem razão. Explico-me melhor. A leitura dos jornais e dos media electrónicos de hoje dá conta da falência do quarto banco americano (Lehman Brothers) e das consequências em cadeia, como as quebras nas bolsas asiáticas e europeias (e, presumo, americanas). De Espanha, a indústria do imobiliário continua em queda, arrastando um pessimismo nas bolsas e nas actividades em geral. Ontem, o Observer trazia uma análise da situação económica do Reino Unido que poderei descrever como catastrófica, como a deslocalização de fábricas. Mesmo a Jaguar Land Rover, agora em mãos indianas, vai sofrer cortes. Um analista diz que muitas empresas já cortaram em actividades fora do negócio principal, o chamado outsourcing, pelo que não resta mais nada senão fechar as empresas.Ou seja, Paulo Querido não tem razão, porque a realidade económica internacional está toda pessimista. Claro que isso dá-lhe razão - esperando todos nós que seja uma crise apenas conjuntural. O desemprego que se detecta no jornalismo segue a tendência das outras actividades. O que há é uma reflexão maior sobre o jornalismo - nos próprios media. E Paulo Querido é um bom analista - como igualmente o director do Público, José Manuel Fernandes, de quem li um ou mais artigos nos meses mais recentes e sobre a mesma temática. Se profissionais de outras profissões tivessem acesso regular leríamos mais artigos realistas mas pessimistas.Observação: o jornalista, no seu Mas Certamente que Sim, atenua a coragem revelado no artigo: "escrever um dia destes um artigo sobre o futuro do papel electrónico, que só por milagre de multiplicação das rosas económicas poderá substituir o papel enquanto suporte pessoal mas talvez tenha uma hipótese como herdeiro, também, dos jornais murais, disponível na paisagem urbana seguindo os passos dos… televisores".
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