SÍNTESE DO SEMINÁRIO DO CIMJ
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SÍNTESE DO SEMINÁRIO DO CIMJ



Isabel Ferin (1) foi a oradora encarregada de apresentar uma síntese dos trabalhos do seminário internacional do CIMJ (13 e 14 de Novembro). Para além do balanço do projecto que deu o nome ao seminário (Jornalismo e Actos de Democracia), ela destacou a conferência de abertura como sendo um dos pontos altos, pelas comunicações de três conferencistas, de uma grande diversidade de perspectivas.

Apesar do seu longuíssimo percurso académico, Doris Graber trouxe uma perspectiva nova, cognitivista, aquisição que os investigadores portugueses precisam de registar, dada a potencial aplicação em estudos de audiência e recepção. Já Kees Brants deu uma visão do cinismo do jornalismo na política e na relação entre ambas as áreas. Os jornalistas não são cínicos em si, considerou, mas existe uma conjuntura que se reflecte na comunicação política e no jornalismo político e leva a essa forma contextual de intervenção. João Pissarra Esteves, de um ângulo distinto, olhou o contributo das novas tecnologias para o aprofundamento da democracia. José Pacheco Pereira, comentador deste painel, levantou a natureza da cumplicidade entre jornalistas e política, difícil de destrinçar, e que faz com que comunicação política e jornalismo vivam um do outro. Para os estudantes presentes, foi útil haver essa percepção de cumplicidade e de partilha, disse Isabel Ferin.

Na segunda sessão, Estrela Serrano e Fermín Galindo apresentaram trabalhos sobre campanhas eleitorais. A primeira analisou o Diário de Notícias e a RTP1 e a evolução da cobertura das eleições em Portugal desde 1976, onde se notam grandes mudanças quer no aspecto do espectro mediático (canais comerciais) quer nas novas tecnologias. Tal condiciona o jornalismo de imprensa e televisivo, levando a retirar, assim, parâmetros sobre a evolução da cobertura das eleições em Portugal. Por outro lado, isso comprova a necessidade de estudos extensivos para aferir as mudanças que os ciclos políticos envolvem. As eleições em Galindo foram analisadas no prisma das sondagens e do condicionamento das eleições, e do modo como a política partidária está condicionada pelas sondagens que, em Espanha, não têm aferido correctamente o sentido de voto nas eleições mais recentes. Os comentários feitos por André Freire e José Manuel Fernandes ampliaram a ideia da mudança. Para o director do Público, há uma grande mudança desde 1976, como a questão dos directos, o custo de fazer jornalismo e a preparação dos jornalistas, tendo como pano de fundo a evolução das tecnologias na cobertura jornalística. André Freire fez um desafio: é necessário um maior conhecimento das sondagens, concluindo da importância de inter-relação entre estudos das ciências da comunicação e da sociologia política.

A sessão da tarde do dia inaugural foi dedicada a analisar a cobertura dos congressos partidários. Rogério Santos apresentou os resultados da análise dos congressos partidários a partir de 1994 (integrado no projecto Jornalismo e Actos de Democracia). Um dado a realçar é a conjugação da cobertura das primeiras páginas dos congressos com finais de mandato (tema que Isabel Ferin analisaria no dia seguinte) - há cerca de 65% de primeiras páginas (Diário de Notícias, Público, Expresso e Visão) quanto a comunicação política. Pergunta: o que fica nas primeiras páginas nestes momentos, para além da comunicação política? Outro assunto visto foi procurar saber que relação existe entre agenda política e notícias saídas nos media. Sabe-se que muita informação circula nos bastidores mas não aparece nas primeiras páginas, o que poderá ser útil para outras investigações. James Stanyer ressalvou a ideia de que os políticos agendam os congressos partidários para os media, ficando as grandes discussões restritas a poucas pessoas, longe das câmaras e numa perspectiva de reserva. Existe a ideia de um espectáculo para cativar o público, nomeadamente os direitos de antena, e a grande política a ficar nos bastidores. Ricardo Jorge Pinto, como comentador, apontou a interdependência do que é feito para os media e do que os media passam depois, reflectindo o grande show montado pelos partidos. O comentarista entende haver diferentes níveis de passar a mensagem, pelo que indagou qual o nível em que Portugal está, dado ainda não ter o desenvolvimento político e os dispositivos tecnológicos de mediatização do Reino Unido, por exemplo.

No dia 14, houve duas sessões sobre o projecto Jornalismo e Actos de Democracia, a primeira sobre finais de mandato (legislativas), cabendo a Isabel Ferin a sua apresentação. Esta investigadora analisou um final de mandato (Cavaco Silva) e dois falsos finais de mandato (António Guterres e Santana Lopes), procurando saber se estes diferentes finais de mandato tiveram ou não coberturas idênticas. Embora uma conclusão inicial apontasse para maior cobertura negativa em torno do final de mandato de Cavaco Silva e um enorme volume de peças durante os oito meses de mandato de Santana Lopes, a ideia final indica não ter havido uma tendência generalizada de cobertura negativa nos finais de mandato. Por seu lado, Albino Rubim fez uma análise das eleições e reeleições brasileiras de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Lula da Silva. Ele mostrou que Lula ganhara as eleições contra a imprensa e FHC com a imprensa a favor. Como comentador, Adelino Gomes destacou a existência de dois mundos diferentes no Brasil: um desenvolvido e outro subdesenvolvido e corrupto.

Rita Figueiras fez uma comunicação também dentro do projecto Jornalismo e Actos de Democracia, versando sobre os líderes de opinião e a condição de género nos líderes, universo dominado pelos homens, políticos, jornalistas e académicos, onde as mulheres têm dificuldade em se manter, oriundas do jornalismo. Isabel Ferin destacou a importância do tema e a qualidade da mesa, reunindo duas pessoas jovens e já com um percurso importante traçado: Rita Figueiras e Pedro Magalhães, este a comentar [ver vídeos de mensagem anterior].

Para além das sessões plenárias, houve, nos dois dias de seminário, sessões livres.

O projecto vai avançar com a publicação dos textos dos conferencistas internacionais em próximo número da revista Media & Jornalismo, publicando-se em livro as comunicações em torno do projecto Jornalismo e Actos de Democracia.

(1) A partir de resumo apresentado por Isabel Ferin (Universidade de Coimbra), editado com base na comissão de síntese formada por docentes e alunos da Universidade Católica.



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