SECÇÃO DOS MEDIA NOS JORNAIS DE QUALIDADE
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SECÇÃO DOS MEDIA NOS JORNAIS DE QUALIDADE


Cláudia Silva, jovem licenciada em Ciências da Comunicação, pela Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve (acabou em Fevereiro último), escreveu uma dissertação intitulada Quando os media são notícia. A auto-representação discursiva nas secções de media do Público e do Diário de Notícias: um estudo de caso.

Trata-se de um tema interessante, embora o seu estudo não contemple as mudanças recentíssimas nos dois jornais, que, da secção, fizeram uma alteração substancial, e sobre a qual escreverei no final da mensagem.

Ela usou a técnica de investigação de análise de conteúdo. Fez as seguintes perguntas de partida: 1) que destaque tem a secção de media no corpo dos jornais e entre secções, 2) existem chamadas na primeira página para algum artigo desta secção, 3) quanto espaço lhe é dedicado, 4) quantos artigos e de que extensão, 5) os artigos estão assinados, 6) existem imagens/fotos, 7) estas estão devidamente creditadas e legendadas, 8) qual o meio mais noticiado, 9) há mais artigos de âmbito nacional ou internacional, 10) há mais artigos de opinião ou de informação, 11) quais os factos mais noticiados, 12) que representações acerca dos media são construídas pelo discurso jornalístico. A recolha da amostra foi feita a partir dos artigos das secções de media do Diário de Notícias e do Público, no período compreendido entre os dias 4 e 17 de Novembro de 2006, num total de 28 edições, 33 páginas de media e 113 artigos.


Cláudia Silva concluiu que o "destaque da temática dos media nos jornais analisados é bastante reduzido. Os jornais privilegiam os grandes temas sociais, políticos – nacionais e internacionais - e económicos, bem como os temas locais. Desporto, artes e cultura, mais específicos, conseguem melhores índices de espaço que o obtido pela secção de media, que se fica pelos 2,21% e é relegada para as páginas finais das edições. Ainda assim, a paginação dos jornais tenta dar-lhe alguma visibilidade ao colocá-la, na maior parte dos casos, em páginas ímpares".

Manifesto algum desacordo com a autora, atendendo inclusive às alterações sofridas nos meses mais recentes. Ter 2,21% da mancha gráfica não é mau de todo e o remeter para as páginas finais é uma questão de arrumação. Parece-me mais fácil estar no final do jornal do que no meio do jornal, pois assim se encontram mais facilmente essas matérias.

Num segundo conjunto de conclusões, Cláudia Silva anota que "O discurso acerca dos media é pouco aprofundado, privilegia-se a pequena notícia, que relata rapidamente os factos e não permite problematizar a realidade. Fala-se principalmente de televisão, que obtém maior índice que a imprensa escrita, a Internet e a rádio juntas. O discurso jornalístico privilegia assuntos relacionados aos media nacionais. Nos assuntos de âmbito internacional, a Europa é o continente com o maior índice de frequência,provavelmente devido à consolidação de uma identidade europeia, logo seguido dos EUA".

Portugal, Europa e Estados Unidos são os principais espaços geográficos representados em todas (ou quase todas) as secções, devido aos valores-notícia de proximidade e preponderância.

O peso mais significativo da televisão aumentou mesmo com o novo figurino do Diário de Notícias. Como a autora escreve, e muito bem, a televisão é "ainda o meio de comunicação de massas por excelência: é mais acessível e mais barata do que a Internet e exerce um apelo mais irresistível pela conjugação de som e imagem em movimento do que a imprensa escrita ou a rádio". Vê-se isso pelas audiências dos vários media, como tenho aqui escrito com frequência. A televisão está no centro da sala e ocupa cada vez mais dependências da casa, onde a uma grande intensidade de consumo corresponde crescentemente uma diversificação de canais nos elementos de uma família, criando nichos e especializações em especial a nível etário.

Há uma outra conclusão no trabalho de licenciatura de Cláudia Silva que me parece igualmente sugestiva. Para ela, o discurso jornalístico privilegia a informação, em detrimento da opinião, "o que também julgamos ser característico dos títulos diários de referência. Os textos de opinião são, geralmente, críticas de televisão, o que volta a denotar a predominância do audiovisual". Ela observou apenas uma secção, mas poderia extrapolar. Noutras secções - estou a pensar na da política -, o peso da opinião deve ser maior.

Temos, assim, como principais características das notícias sobre os media a sua origem local ou nacional, mais notícias sobre a televisão, de pequena dimensão (breves), com uma predominância da informação. A ser assim, o Diário de Notícias está mais perto da configuração adequada, enquanto o Público abandonou por completo a matéria. No Diário de Notícias, na sua versão recente de jornal popular de qualidade, próxima do Jornal de Notícias, do mesmo grupo mediático, há até uma ênfase naquilo a que se chama reality tv, que inclui reality-shows, talk-shows, novelas-documentário, como os meus alunos ontem analisavam na aula. Há uma circularidade entre a televisão (o que se passa nela) e a imprensa, com esta a dar informação suplementar dos programas de televisão.




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