A exposição Lá vai ela, formosa e segura, scooters da colecção de João Seixas, 1945-1970, estará patente no MUDE (Museu do Design e da Moda), em Lisboa, até 24 de Outubro de 2010. Ressalto dois elementos: a exposição (que aconselho vivamente a ver) e o catálogo. Em meu entender, a exposição fica muito bem complementada pelo catálogo, pois à memória visual dos objectos junta-se a materialidade no catálogo, aquela com as dimensões físicas, este com as cores e o design vincado nas duas dimensões do papel. Acrescento um terceiro elemento: as peças de moda (vestuário com design de autores de grande prestígio), inseridas no contexto histórico das máquinas de duas rodas.
No catálogo, Bárbara Coutinho, directora do museu, explica o título: "A Leonor cantada por Luís Vaz Camões, que ia descalça para a fonte, »fermosa, e não segura», é reinventada por António Gedeão, em 1961, e passa a ir «voando para a praia, na estrada preta. Vai na brasa, de lambreta». Animado por esta nova Leonor e embalados pela sonoridade do poema, intitulámos Lá vai ela, formosa e segura a exposição que apresenta a evolução da scooter entre 1945 e 1970".
Pedro Teotónio Pereira, em texto no mesmo catálogo, realça o desenvolvimento da scooter em simultâneo com o biquíni (1946)e o new look de Christian Dior (1947), mas também o primeiro rádio portátil da Sony (1954), o pronto-a-comer, as máquinas de lavar, os aspiradores e os gira-discos. 1946 foi o ano em que surgiram a Vespa, da Piaggio, e a Lambretta, da Innocenti. A publicidade da scooter Sachs de 1956 dizia: "É a scooter que em todos os pontos do Mundo é exigida para Senhoras, Párocos e cavalheiros de qualquer classe".
A primeira motocicleta surgiu em 1894 na Alemanha, explicam João Seixas e João Lopes da Silva no catálogo, mas o veículo que mais se aproxima da scooter foi lançado em França em 1902. A trotineta americana de 1915, parente antiga de veículos ressuscitados recentemente, faz parte da genealogia dos veículos propulsionados por um motor de combustão de duas rodas, ou "o automóvel em duas rodas", como dizia um folheto da Unibus em 1920.
A massificação e a idade de ouro das scooters surgiu entre 1946 e 1960. Estudantes universitários e mulheres assumiam-se como os principais difusores e consumidores do meio de locomoção, fácil de conduzir e estacionar em cidades cada vez mais complicadas quanto a tráfego rodoviário (à esquerda, cartaz do filme Roman Holiday, de William Wyler, com Gregory Peck e Audrey Hepburn, em que esta conduz uma scooter; ver vídeo a seguir). Empresas italianas, como as indicadas acima, produziram milhões de scooters. Indica Bárbara Coutinho no seu texto que Portugal também teve a sua scooter: a Casal Carina, da Metalurgia Carina, de Aveiro, produzida em 1967, e utilizada sobretudo por mulheres na zona de Aveiro que se deslocavam nas suas viagens entre casa e emprego.
- Um Tipo De Publicidade
"Revista [título]. Promoção Você dá o Tom! Você escolhe o que quer ganhar. Sorte sua. Uma Scooter [marca] ou um curso de corte criativo e coloração na [empresa] em Londres. Na promoção Você dá o Tom, você escolhe o prêmio que mais combina...
- ExposiÇÃo De Cartazes PolÍticos
Quase 250 cartazes políticos, muitos deles pertencentes a colecção suíça, podem ser vistos a partir de hoje no Museu do Design e da Moda (MUDE), na antiga sede do Banco Nacional Ultramarino, na Rua Augusta, aqui em Lisboa. O título da exposição,...
- Museu Do Design E Da Moda
O MUDE (Museu do Design e da Moda) inaugura no próximo dia 21, no antigo edifício do Banco Nacional Ultramarino, na rua Augusta, em Lisboa. A sua directora museológica, Bárbara Coutinho, explica o que vai ser o museu na Agenda Cultural de Lisboa deste...
- Museu Do Design E Da Moda Atrasado Dois Anos
Por 21,7 milhões de euros foi esta semana decidido adquirir a antiga sede do Banco Nacional Ultramarino, à rua Augusta, 24, em Lisboa, para albergar o Museu do Design e da Moda (Mude), segundo noticiou ontem o jornal Público. A colecção Francisco...
- Rosa Ramalho
No Museu de Olaria, em Barcelos, encontra-se uma magnífica exposição dedicada à obra de Rosa Ramalho (1888-1977), um ícone da arte popular portuguesa. No catálogo, retiro algumas informações do texto de Alexandre Alves Costa, que divide a obra...