R & J, a versão de Joana Linda da peça de Shakespeare
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R & J, a versão de Joana Linda da peça de Shakespeare


O mais recente trabalho de Joana Linda (Castro Correia) é a encenação de Romeu e Julieta, de Shakespeare, adaptação com um elenco inteiramente feminino e apresentado pela primeira vez no Festival Temps d’Images (no Clube Estefânia, rua Alexandre Braga, Lisboa), de 6 a 8 de Novembro, com a sala esgotada nos vários espectáculos.


Na época de Shakespeare, os papéis femininos eram representados por homens, do mesmo modo que as personagens de negros no teatro e no começo da rádio eram representadas por homens com a cara enfarruscada. Agora, Joana Linda deu às mulheres todo o poder da representação (ver http://www.tempsdimages-portugal.com/2014/programa/06_linda.html). Romeu e os primos são gentis, ágeis e emancipadas figuras femininas, o que torna o conflito entre as famílias Montecchio (Romeu) e Capuleto (Julieta) mais próxima da dança que a tragédia isabelina.

Um palco despido (tem apenas duas escadas de palco) e o fundo a funcionar com três ecrãs gigantes onde os pais de Julieta a consultam, além da aia, e o príncipe Escalo, responsável pela gestão de Verona, a cidade italiana onde decorrem os acontecimentos, tornam a peça em espectáculo multimédia. Tal obriga a uma gestão meticulosa da acção e do tempo e a uma narrativa que se aproxima o trabalho dos filmes de ficção científica com diálogo entre a Terra e um local longínquo. Os figurinos, saídos da cultura da época e recuperados na mesma cultura cinematográfico, reincorporam a encenação de Joana Linda. Ao minimalismo do palco corresponde uma igual bem conseguida estilização de figurinos e figuras, casos da personagem de frei Lourenço, mistura de sábio católico e praticante de ioga, e da aia, que se torna a ligação entre os dois apaixonados levando uma mala transparente onde se vê um queque que serve de alimento durante as deslocações. Vejo também outra referência, a da pintura dos pré-rafaelitas, de papéis místicos e situações simbólicas. 

O uso do vídeo é fulcral, como disse atrás. Ele é um dos materiais mais empregues por Joana Linda na sua carreira ligada à arte (fotografia, moda, design, onde assinou cartazes de filmes como Rafa, de João Salaviza, e É o Amor, de João Canijo). Tendo estudado Ciências da Comunicação, ela sempre se interessou pela fotografia, cinema (actriz e realização) e, agora, encenação. Numa entrevista que deu a Sabrina D. Marques, em Maio de 2010 (http://www.ruadebaixo.com/joana-linda.html), disse: "Comecei por fazer uma exposição no castelo de S.Jorge, uma mostra internacional de fotografia, e nesse momento comecei a detectar um grande movimento na internet, situado no advento da fotografia digital, das máquinas digitais. Especialmente vindo de raparigas, que faziam auto-retratos. Reuni-me então com mais trinta raparigas e fizemos uma exposição no S. Jorge. Há pouco tempo, fiz uma exposição no Barreiro, no Outfest, e depois fiz uma exposição no Porto, no Maria Vai Com As Outras. De seguida, expus a propósito do lançamento de um livro de uma poetisa italiana que tinha uma fotografia minha na capa. Houve uma outra exposição, a título individual, no Teatro Taborda, e ainda uma outra, que comissariei com uma fotógrafa espanhola, a partir de um intercâmbio de artistas entre Lisboa e Córdova".


Elenco: Ágata Pinho, Anabela Moreira, Cláudia Efe, Caroline Dawson, Diana Nicolau, Filipa Matta, Katrin Kaasa, Maria João Pinho, Miriam Santos, Patrícia Andrade, Patrícia Couveiro, Paula Garcia, Priscilla Devesa, Sara Graça, Sofia Arriscado, Sónia Balacó, Sónia Baptista, Suspiria Franklyn, Tânia Alves, Teresa Coutinho e Vanda Cerejo. Adaptação e encenação de Joana Linda, assistência de encenação de Sara Graça, produção de Cedro Plátano e Joana Linda, produção executiva de Renata Sancho. Figurinos de Fernanda Pereira, cabelos de Ana Sousa Atelier e banda sonora original de João Alegria.





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