As cheias que afectararm as áreas de Lisboa e Setúbal na passada segunda-feira marcaram, na minha óptica, uma nova forma de fazer os media. Passou-se, se quisermos, do conceito de media produzidas pelos operadores licenciados (canais de televisão, por exemplo, que têm licença para emitir em determinada frequência, com uma estrutura empresarial e com viabilidade através da publicidade) para media operados por produtores anónimos, que colocam a sua informação em canais mais informais e até agora gratuitos: fornecedores de alojamento como o YouTube ou o Sapo. O que aconteceu com os atentados de Londres e Madrid, quando se pediram imagens de cidadãos que tivessem presenciado os mesmos, aconteceu agora com as cheias nesta zona do nosso país.
Alteram-se as estéticas, o modo aparentemente objectivo e distanciado de reportagem profissional, o sentido de construção da narrativa. Os vídeos amadores não se preocupam com a qualidade da imagem, ouvem-se sons em off dos próprios produtores, as panorâmicas são rápidas (o que ilustra a inexperiência dos operadores e a ânsia de mostrar tudo sem usar a montagem), com imagens cruas e de significados múltiplos, porque não apurados para dar uma narrativa.
Os vídeos vêem-se nos fornecedores de alojamento gratuitos mas os media tradicionais serviram-se deles, na segunda-feira passada. Na página on-line do Público isso foi visível na área de vídeos. Num canal de televisão, o jornalista do noticiário dizia: "é um vídeo de um telespectador do canal". Mas omitia-se o nome do autor do vídeo, como se as peças informativas tenham dois tipos de produtores: os profissionais, que trabalham diariamente e têm um contrato de trabalho com o canal, e os espectadores, que contribuem graciosamente sem direitos de autor.
Há muitos anos atrás, os jornais publicavam fotografias dos leitores; chegou a vez dos espectadores enviarem vídeos, feitos pelo telemóvel ou por uma máquina digital. Mas noto duas diferenças: uma muito maior quantidade, uma maior eficácia. Isto porque os espectadores têm uma formação visual maior, pois usam frequentemente os seus aparelhos e porque consomem imagens em movimento desde tenra idade, o que os aproxima dos conhecimentos profissionais. Além de que um computador já traz, no seu software, pequenos programas de edição de vídeo. Em baixo, vídeos que eu retirei dos seguintes sítios: Jonix World (os dois primeiros) e Sapo.
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