Helena Matos (1961-), para este livro, serviu-se de jornais e revistas da época, com destaque para o
Diário Popular, jornal que dava muita atenção ao quotidiano,
Diário de Lisboa,
O Século,
Diário de Notícias e
O Século Ilustrado, ao longo da década de 1960 e até 1974. Ela usou outras fontes, como indica no final do livro. O livro, no seu todo, resultou de trabalhos que lhe foram encomendados, em especial a consultoria histórica feita, a pedido da RTP, para a série
Conta-me Como Foi. Mais recentemente, ouvi Helena Matos em trabalhos feitos para a Antena 1, onde ela comentava o quotidiano dos portugueses nos anos em volta de 1974, a propósito dos 40 anos de implantação do regime democrático no nosso país.
O título do livro,
Os Filhos do Zip Zip, constitui uma referência a um programa de televisão famoso na época e que marcou uma espécie de transição ou, pelo menos, de anseio de mudança política. Esta, como sabemos, veio a fazer-se por via militar e não civil, embora abrisse caminho a uma vasta alteração na sociedade civil.
A obra
Os Filhos do Zip Zip divide-se em seis partes, cada uma delas com título apelativo e que reflecte valores partilhados na época: adeus aldeia, nós por cá vamos andando, estranha forma de vida, os desejados, mundo de aventuras, conversas em família. E tem 23 capítulos, onde identifica problemas muito sentidos então: subúrbios, delitos, guerra colonial, Tempo Zip (o programa de televisão e de rádio), questões femininas, amor, rock'n'roll, juventude, notícias sobre mistérios, sangue na estrada, conversas em família de Caetano, "por motivos alheios à nossa vontade" (diapositivo mostrado quando o programa da RTP sofria alguma avaria), primavera marcelista.
Na sua biografia, Helena Matos é apresentada como antiga professora do ensino secundário e jornalista. Dessa dupla vertente de pedagoga e de construtora de notícias surge uma capacidade de expor os temas com vivacidade e mantendo uma narrativa atraente. De produtora de notícias, ela passou a analista de notícias; daí, o recurso sistemático à análise das notícias e ao seu enquadramento histórico, social e linguístico. Isso verifica-se logo na entrada do livro - "Maio de 1973: os eléctricos deixam de circular na Estrada da Luz e também em Benfica. A Casa das Gravatas vai dar lugar a um banco e no Rossio fecha o Hotel Francfort" (p. 16). Logo depois, salta (e explica) para um fenómeno então a ter uma grande expansão: o crescimento urbano para a periferia de Lisboa. Sem o explicitar no texto, ela ilustra essa expansão com um anúncio de J. Pimenta, então um construtor afamado e que ficou conhecido através do slogan "Pois, pois, Jota Pimenta", enunciado a significar que o problema da habitação estava resolvido com os seus empreendimentos.
O texto de Helena Matos tem de ser lido todo, para nos apercebermos das ironias, dos trocadilhos, das "coisas da vida" num país pequeno, pobre e silenciado. Basta atentar num dos cartunes publicados no livro (p. 48), retirado do
Diário Popular, conversa entre o merceeiro e a cliente, com aquele a dizer: "É o que eu lhe digo, D. Rita: quando havia batatas, não havia bacalhau. Agora, que há bacalhau, não há batatas". Era o custo de vida. No Natal de 1973, foi difícil arranjar bacalhau. Suspeitava-se que havia insuficiências de distribuição ou especulação (p. 47). Numa altura assim, dizia-se que os preços estavam "pela hora da morte", exactamente o título do capítulo 3 da obra.
Da sua bibliografia, Helena Matos escreveu o livro
Salazar, em dois volumes (
A Construção do Mito;
A Propaganda).
Leitura: Helena Matos (2013).
Os Filhos do Zip Zip. Lisboa: A Esfera dos Livros, 359 páginas
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