OBITEL 2010
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OBITEL 2010


Obitel 2010 - Convergências e transmidiação da ficção televisiva, com coordenação de Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Guillermo Orozco Gómez, foi publicado recentemente pela GloboUniversidade, do Rio de Janeiro.

Trata-se do livro anuário, de que já tenho aqui escrito sobre edições anteriores, que analisa a ficção televisiva em países de línguas ibéricas em 2009: Argentina, Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos (nomeadamente o estado da Florida), México, Portugal, Uruguai e Venezuela (país que entrou agora). A coordenação internacional do projecto está a cargo de Immacolata Lopes e Guillermo Orozco. Há edições anuais desde 2007, a cargo do Observatório Ibero-Americano da Ficção Televisiva (Obitel), criado em 2005. Foram analisados programas de 56 televisões abertas, privadas e públicas.

As acções metodológicas do anuário são as seguintes: 1) monitorização sistemática dos programas de ficção em cada país, 2) produção de dados quantitativos comparáveis (horários, programas, número de capítulos, índices, perfil da audiência, temas centrais da ficção), 3) identificação de géneros e formatos e seus fluxos, 4) análise das tendências da ficção, 5) publicação do anuário, de que o último livro é o exemplo. As secções do anuário são fixas: 1) contexto audiovisual do país, 2) análise da ficção inédita, 3) dez títulos mais vistos, 4) mais destacado do ano (produção, níveis elevados de audiência ou fracasso, impacto social, inovação ou significado no mercado), 5) tema do ano. No presente anuário, o tema foi transmedia storytelling, o que quer dizer: proliferação das narrativas ficcionais televisivas em diferentes meios (cinema, internet, televisão, telemóvel, DVD, videojogos), plataformas (televisão de sinal aberto, por cabo e satélite) e formatos (telenovela, série, minissérie, obra de teatro, espectáculo ao vivo), com acompanhamento de fãs que, a partir do que vêem, procuram criar narrativas próprias, rompendo com a dualidade entre emissores e receptores.

Na análise, os investigadores concluem pelo aumento da oferta anual de horas de ficção, com o Brasil em primeiro lugar (5351 horas), seguindo-se o México (4389 horas), Portugal (4075 horas) e Argentina, responsáveis por 50% do universo, pelo que foram designados os grandes produtores. Em termos de número de títulos de telenovela, a Argentina está à frente, ao passo que o Brasil é o país com mais telenovelas produzidas. A telenovela é o formato prevalecente. Quanto a séries, a Espanha lidera, seguindo-se Portugal. O telefilme é um formato quase só existente no Chile. Em termos de coproduções internacionais, a Espanha ficou à frente, seguindo-se o Uruguai e a Argentina, com Portugal a não ter nenhum papel neste tema. Dos nove países analisados, sete concentram a ficção nacional no horário nobre, grupo em que Portugal se inclui. Dos títulos mais vistos, o Brasil lidera, o que não é anormal dada a gigantesca dimensão do país: dos dez primeiros, só dois é que não são brasileiros, um do Chile e outro da Argentina. Os primeiros programas portugueses de ficção mais vistos aparecem em 33º lugar, a telenovela Feitiço de amor, da TVI (Fealmar), com 15,6% de audiência e 50,2% de share, e 36º lugar, a telenovela Meu amor, igualmente da TVI (Fealmar), com 15,4% de audiência e 43,2% de share. O mesmo canal português colocaria Equador em 44º lugar, Deixa que te leve em 45º, Flor do mar em 54º, Sentimentos em 55º, aparecendo o primeiro programa da RTP em 57º lugar, Vila Faia. Morangos com açúcar, uma série juvenil da TVI, aparece em 68º lugar na lista dos programas mais vistos a nível dos nove países analisados.

O anuário dá conta da pouca circulação entre países da produção ficcional, pois apenas 22 das 84 ficções mais assistidas foram vistas além do país produtor (26%). A Argentina foi o maior exportador (oito) em termos de ficções mais assistidas. Os eixos narrativo-temáticos da telenovela mantêm-se: amor/ódio, relações femininas, traição, vingança e drama de identidade. Há uma abertura ao tema diversidade sexual, um aumento de temas políticos e económicos ligados ao poder, enquanto a questão da natureza racial aparece apenas representada no Brasil e em Portugal. A crise financeira global tem repercussão nas temáticas da telenovela e o crime organizado e a violência reflectem-se em telenovelas do México e dos Estados Unidos. A violência social fez parte também das histórias das telenovelas em Portugal.

O perfil da audiência da ficção nos países estudado mantém-se: género feminino, idade adulta, classe média para baixo. Mas há registo de mudanças nos comportamentos do género masculino e entre a audiência juvenil. As inovações tecnológicas em 2009, como a digitalização, tiveram impacto, nomeadamente com a inovação nos critérios industriais e estéticos da ficção. O Uruguai, por exemplo, voltou a produzir ficção, ao passo que a Argentina aumentou a produção e os Estados Unidos reduziram (aqui a Televisa ficou com a maior parte da produção para língua hispânica). Outro fenómeno é a concorrência na produção de ficção entre canais públicos e privados, ganhando aqueles algum protagonismo num território que tem sido dos canais comerciais.

A equipa portuguesa que investigou e escreveu o capítulo respeitante ao nosso país foi constituída por Isabel Ferin Cunha (Universidade de Coimbra), Catarina Duff Burnay (Universidade Católica Portuguesa) e Fernanda Castilho (Universidade de Coimbra).



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