Coisas e Coisas
O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro
Assisti recentemente à série de documentários sobre a maravilhosa obra de Darcy Ribeiro,
O Povo Brasileiro. Os documentários são evidentemente baseado na obra homônima do autor, publicada em 1995. Com a narração de Matheus Nachtergaele, o filme conta a participação de inúmeros músicos e intelectuais brasileiros, como Chico Buarque, Tom Zé, Antônio Cândido, Aziz Ab'Saber, Paulo Vanzolini, Gilberto Gil, Eduardo Gianetti e diversos outros.
O povo Brasileiro. Obra de um dos maiores e mais notórios intelectuais brasileiros, o antropólogo Darcy Ribeiro.Com entrevistas do próprio autor, citações de poemas e outras obras e vídeos históricos, o documentário incita ao orgulho de nosso povo, de nossas raízes e dessa mistura particular que vem operando em terras canarinhas desde antes da colonização européia. O Brasil índio, europeu, negro, crioulo, sertanejo, sulista, caipira, caboclo. O Brasil da mistura de todas as raças, tentando buscar e trazer toda a virtude de toda a história da humanidade num povo só. O Brasil que é misto na raça e na cultura, na gente e na história, sincretismo religioso e cultural de um povo forte e alegre, sorridente e com todas as faces agrupadas em uma nova face sempre em reconstrução e reinvenção. Uma série extremamente bem feita, "O povo brasileiro" é um filme para ser apresentado em todas as salas de aula, nos colégios do país inteiro!
O brasileiro tem naturalmente uma baixa estima de país colonizado, mas o Brasil é grande e belo, maravilhoso em todas suas cores biológicas e culturais -- e deve ser exaltado. Divido com Ribeiro o otimismo para com o nosso povo e a nossa gente. O que precisamos consiste na árdua tarefa de produzir melhores políticas públicas que possam rechaçar a dominação cultural da elites que chega através cultura de massa do entretenimento -- seja ela nacional ou importada da América do Norte. É hora de exaltarmo-nos e educarmo-nos na direção correta, na direção da multiplicidade de formas e cores e culturas que representamos, é hora de pós-modernizarmos nossas leis, dando a todos os povos brasileiros os direitos que têm -- e que deve ser respeitado.
Confesso ter me emocionado várias vezes ao longo do documentário com a força, a esperança e a convicção de Darcy em nosso povo. Principalmente o último documentário da série é esplêndido, ainda que só faça realmente sentido para os que assistiram-na por completo.
Altamente recomendado!A maravilhosa série sobre "O povo brasileiro". Consistindo numa série de 10 episódios e dirigido por Isa Grinspum Ferraz, apresenta uma interessante sinopse da obra homônima de Darcy Ribeiro, com comentários de diversos intelectuais brasileiros.====
Vale notar que, há pouco tempo, um amigo encaminhou-se um e-mail publicitário que recebera e que tratava de um fanzine cultural. Disse estar mordido (de raiva) sobre o assunto e disse que eu também ficaria.
Basicamente a nova publicação cultural -- com correspondentes em diversas metrópoles dos EUA e Europa -- tinha como objetivo apresentar ao leitor as novas vertentes do primeiro mundo em diversos campos da arte, moda, cinema, pintura e música. A preocupação de meu conterrâneo era relativa a um estado em que ainda vivemos de
subordinação cultural ao primeiro mundo. Falta aos brasileiros perceber o quanto somos ricos de nossa própria cultura multifacetada e de nossa herança histórica que engloba tanto o ocidente europeu quanto a África e a cultura indígena, além de uma nova identidade já bem constituída e fundamentalmente
brasileira.
E o que fazem os brasileiros é -- ao invés de estimular a arte de seu vizinho --, pagar caro pela arte-importada de desconhecidos estrangeiros. Arte esta que não representa, absolutamente, a nossa realidade brasileira. Falta-nos descobrir que o santo de casa é o que faz os mais belos milagres; aqueles que têm uma relação mais próxima conosco e com nosso estilo de vida. Parodiando Hobbes ouso dizer que
o brasileiro é o lobo do próprio brasileiro. É urgente uma mudança drástica dos valores que temos sobre nosso próprio povo. Darcy Ribeiro tenta mostrar isso com bastante vigor e otimismo em sua obra. Precisamos segui-lo! Elogie-mo-nos!
Confesso que também uma vez pensei-me sem cultura quando estava no Brasil, antes de fazer minhas (nem assim tão numerosas) viagens pelo mundo. E acho que este é padrão típico do brasileiro que jamais dá valor aos seus colegas assim tão ricos culturalmente, enquanto venera o que vai acima do Equador. O problema pode se dar porque talvez só consigamos entender o valor de nossa cultura quando nos afastamos dela -- ao menos um pouco. E é extremamente difícil para o brasileiro padrão afastar-se de sua cultura, posto que o país é tão grande e faz divisa com o oceano em sua parte mais populosa. O Brasil precisaria sair do Brasil para apreciá-lo em toda sua beleza e esplendor, como faço hoje e como Darcy faz tão bem em seu documentário. O Brasil precisa educar-se sobre a riqueza do Brasil, de seus costumes e de sua gente. Mas infelizmente, a maioria da população não tem recursos financeiros para viajar e verificar com seus próprios olhos a diferença cultural, relativizando as culturas e amando àquela em que nasceu.
Meu amigo entretanto dizia-me achar um absurdo o fato do brasileiro não dar valor ao seu próprio país e ao que cria, à nossa própria cultura. Revoltava-se. De fato, é lamentável. Mas não devemos apenas criticar e reclamar de nosso próprio auto-desdém, o que devemos fazer de fato é lutar contra ele. O que devemos fazer é tentar educar a grande massa de brasileiros nas escolas em todo o Brasil e mostrá-los como somos ricos e diversos, virtuosos em enormes escalas.
Precisamos utilizar a força do brasileiro para alavancar o próprio brasileiro.Exaltemos a arte dos nossos vizinhos! Passemos a idéia adiante! Apreciemos nossas próprias obras que são extremamente ricas! E saibamos também, e sempre, respeitar as culturas dos outros povos e compreender que não há apenas uma "Verdade", porém verdades diferentes para grupos diferentes de seres humanos. Infelizmente ainda somos colonizados culturalmente pelo primeiro mundo e os brasileiros não dão tanto valor ao que é seu, sendo o Brasil -- ao que me consta -- um dos únicos países onde o "importado" é mais chique que o nacional.
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PS: O documentário pode ser também visto por inteiro -- embora partido em 30 partes -- através do YouTube.
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