O jornalzinho da firma
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O jornalzinho da firma


Pedro odiava quando diziam que ele era o responsável pelo jornalzinho da firma.

Ele era, segundo suas explicações, o editor do Sua Voz, veículo de comunicação dirigido aos colaboradores da organização ou ao público interno. A coisa ficava bem diferente.

A merda é que até o presidente falava jornalzinho da firma.

- Doutor Alcides, assim o senhor desvaloriza o produto. Jornalzinho da firma, house organ, essas expressões são muito antigas, sabe? Hoje, temos o quê? Temos um canal de diálogo com um dos mais importantes stakeholders da organização: os nossos colaboradores. Dizer jornalzinho da firma é o mesmo que dizer que a kafta que o senhor comeu ontem no churrasco é espetinho de carne moída. Percebe a diferença?

Mas doutor Alcides não percebia. Nem sabia o que era kafta. Muito menos carne moída. Insistia que era, sim, o jornalzinho da firma. Da sua firma. E ponto final.

Tinha gente que, ciente que o Pedro não gostava da alcunha dada ao Sua Voz, sacaneava.

- Aí, Pedrão, quando sai o próximo jornalzinho da firma?

Pedro amava o Sua Voz. Dedicava sua vida a ele, ainda mais depois do fora que levou da Maria Clara, do Faturamento. Criou seções diferentes, a coluna sobre a memória da organização, um concurso de poesias. Para mostrar que o veículo não era um simples porta-voz do patrão, instituiu até um espaço para cartas de reclamações dos colaboradores, com a garantia de que não haveria retaliações. E realmente não havia.

Um dia recebeu uma carta da Maria Clara, do Faturamento. Será que ela também queria reclamar de algo? Mas não era um protesto. Era coisa boa. Bem boa. Ao ler a carta, Pedro sentiu uma dor de barriga tão grande de felicidade que saiu correndo para o banheiro. “O seu convite para o cinema ainda está valendo, Pedro? Se estiver, eu aceito. Sabia que de todos que trabalham no jornalzinho da firma você é o mais bonito?”

Trancado na primeira cabine do banheiro do sexto andar, Pedro relia a carta. Era só alegria. Nem se importou que a Maria Clara, do Faturamento, escreveu jornalzinho da firma.



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