O jornalismo, ano 2070 d.C.
Coisas e Coisas

O jornalismo, ano 2070 d.C.


O papel, como a gente conhecia no passado, não existe mais. Jornais e revistas chegam ao leitor em e-paper, afinal, em 2070, quase não há mais árvores no planeta.

Também não há repórteres na rua. A cobertura das enchentes em São Paulo, por exemplo, é feita por uma versão avançadíssima do Google Earth. Dá até para entrar em barraco alagado, entrevistar morador indignado. Tudo remotamente.

A transmissão das informações é ultraveloz. E vai ficar ainda mais. Comenta-se que daqui a 10 anos, lá por 2080, as pessoas vão ficar sabendo de mais uma eliminação do Corinthians na Libertadores antes mesmo de o jogo começar.

Nas redações, 30% dos jornalistas são robôs. Só não tem mais máquina, porque uma lei estabelece este teto. A reserva de mercado resistiu ao tempo. Os robôs trabalham com conteúdo repetitivo, como matérias de mercado financeiro e críticas de jogos de futebol.

A boca-livre perdeu a graça, porque o filé mignon ao molho madeira em 2070 é servido em cápsulas. Os canapés dos vernissages, idem. Tudo no mundo agora é ingerido em cápsulas.

As credenciais para eventos não existem mais. A identificação dos repórteres é feita pela íris – em alguns casos até mesmo pelo odor dos corpos –, tudo isso ligado a um sistema inteligentíssimo de dados que comprova se o jornalista está realmente trabalhando ou só tentando entrar no evento sem pagar. O fim da carteirada.

A PEC do diploma ainda está para ser votada no Congresso. Mas isso deve acontecer no próximo mês. Sem falta.

Os carros de reportagem voam para as pautas. Literalmente.

O envio de releases e o follow up dos assessores de imprensa são feitos por telepatia. O ato de xingar o assessor que transmitiu um pensamento numa hora inoportuna também.

Não existem mais furos de reportagem. Nem os cobiçados prêmios. Tudo porque, lá pelo ano de 2062 se não estou enganado, foi inventada uma máquina de extrair a vaidade dos jornalistas. E sem vaidade, meus caros, furos e prêmios pra quê?



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