Coisas e Coisas
O despertar de um jornalista
Fora as raras ocasiões em que ele me passava o aviso na véspera, meu pauteiro me ligava, todo dia e religiosamente, às 8 e meia da manhã. Era o momento de conhecer a minha matéria do dia. Podia ser coisa boa ou coisa ruim. Ou coisa nada a ver. Ou tudo ao mesmo tempo. Embora 8 e meia da manhã seja muito tarde para a maioria dos trabalhadores brasileiros, que às 5 já se espremem em algum trem ou ônibus, para mim era muito cedo. Nunca dormi antes das 2 da madrugada. Teve uma fase em que eu despertava às 7 para levar o cão para passear, mas foi só uma fase.
Meu celular/despertador tocava às 8. Era o tempo de receber uma lambida do Nestor, tomar banho, fazer a barba (ou não), engolir um café bem forte e esperar pelo pauteiro ligar. Mas, na prática, isso raramente acontecia. Nunca levantava às 8. O despertador tocava e eu seguia na cama, enrolando, dormindo e acordando, sonhando sonhos malucos, torcendo para que a pauta não exigisse fazer a barba. Sempre odiei fazer a barba todo dia. Porra, se existem vantagens de ser jornalista, esta é uma delas.
Quase sempre eu acordava mesmo às 8 e meia, com o meu celular tocando Living La Vida Loca para avisar que era o pauteiro. Eu tossia umas duas ou três vezes para tirar aquele maldito catarro da garganta e ter uma voz minimamente decente para falar com o cara que me daria uma boa ou uma má notícia. Ou tudo ao mesmo tempo. Odiava quando ele falava “puta voz de sono, Duda. Aposto que nem leu os jornais de hoje”. Mas a vida era assim.
O melhor dos mundos era quando a pauta era só à tarde e, claro, não exigia fazer a barba. Então eu relaxava. E enrolava ainda mais na cama, dormindo e acordando, sonhando mais sonhos malucos. Até que o Nestor pulava na cama com aquela cara de “preciso mijar urgentemente, seu vagabundo” e então meu dia começava. Mas esta fase também acabou.
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