Coisas e Coisas
O barbeiro demoníaco da Rua Cruzeiro
Ao contrário de alguns jornalistas metrossexuais que conheço, assíduos freqüentadores de clínicas de estética, sou um cara conservador. Ainda não compreendi muito bem esse lance de vaidade masculina. Um amigo até fez um alerta: “Duda, hoje o cara passa um creme na cara; amanhã, começa a raspar a bunda; depois, já está trabalhando na editoria de Cultura de algum jornal”. Minha única frescura é ir, a cada dois meses, ao salão do João, antigo barbeiro do bairro.
No salão do João, na Rua Cruzeiro, espécie de “sebo” também, eu resgato a leitura de umas revistas
Playboy bem antigas e fico sabendo de todas as fofocas da vizinhança. O barbeiro, mesmo sem diploma de jornalista, sempre dá seus furos. Por ele, descobri que a filha do dentista engravidou do mecânico da esquina. Que seu Vitório, o velhinho que aluga o apê para mim, é viciado em Viagra com Coca-Cola. João não poupa ninguém.
Barbeiro, assim como taxista e aposentado, também tem opinião para tudo. Analisa cenários, faz previsões. João é comentarista de política: “Duda, ouvi dizer que o Lula vai dar o golpe e tentar o terceiro mandato”. João é comentarista de Esportes: “Se o Dunga não convocar o Ronaldo para a Copa, a gente não passa das oitavas”. João é comentarista do mundo do entretenimento. “Tô dizendo que esse Michael Jackson não morreu. Deve estar escondido na mesma cabana do Belchior no Uruguai”.
Minha ex-mulher sempre pedia para eu mudar o corte de cabelo, para algo mais moderno, num “centro de estética bacana”, mas nunca abri mão do salão do João. Sentado em sua velha poltrona de couro, em frente a um espelho com rachaduras e uma pequena televisão pendurada no teto, tenho informação e diversão. Só lamentei o dia em que o desgraçado espalhou pelo bairro que minha ex havia me trocado por um office-boy saradão, com a metade de sua idade. Barbeiro filho-da-puta!
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