NOTAS PARA UMA AULA DE TEORIA DA COMUNICAÇÃO (5)
Coisas e Coisas

NOTAS PARA UMA AULA DE TEORIA DA COMUNICAÇÃO (5)



No livro de José Augusto Mourão e Maria Augusta Babo (Semiótica. Genealogias e cartografias), o capítulo sobre Charles Saunders Peirce (1839-1914) é dos mais difíceis mas mais estimulantes.

Mourão (p. 161) apresenta-nos a definição de semiótica em Peirce como “a ciência das leis necessárias do pensamento (já que o pensamento ocorre sempre por meio de signos), considerando não apenas a verdade, mas também as condições gerais dos signos se tornarem signos”.

A faneroscopia de Peirce (o que está diante do espírito ou da consciência) divide-se em três elementos (Mourão, p. 156), expressas por três categorias, presentes em todos os signos. A Primeiridade associa-se com liberdade, sentimento e independência (sabores, fragrâncias, qualidades), a Secundaridade é experimentada como alteridade, fonte de constrangimento e luta, caso do exemplo da porta entreaberta, e a Terceiridade é a categoria da mediação e da síntese, e, também, da generalidade, continuidade, difusão, crescimento e inteligência.


A semiótica origina-se na lógica (Mourão, p. 155). O princípio fundamental é o da interpretação dos signos (semiose) e o seu enunciado mais simples e geral é “A é B” (regra de inferência). O termo semiose designa o meta-modelo da semiótica, a teoria geral. Assim, a semiótica é o discurso teórico sobre os fenómenos semiósicos (Mourão, p. 162). A semiose é uma cooperação de três sujeitos: o signo, o seu objecto e o seu interpretante. Na teoria de Peirce, a semiose ou a produção da significação é um processo triádico que põe em relação um signo ou representamen, um objecto e um interpretante.

O representamen é o signo enquanto se apresenta. O signo é um lugar virtual de conhecimento, determinado por um lado por algo diferente de si mesmo, chamado o seu objecto, e por outro lado determina um certo espírito actual ou potencial, o interpretante, criado pelo signo de modo que o espírito que interpreta é mediatamente determinado pelo objecto. O interpretante é também um signo que remete para o objecto da mesma maneira que o representamen. O objecto é tudo para que o interpretante remeta o representamen. O interpretante é o significado próprio do signo; nomeadamente o interpretante imediato tem todas as funções do conceito saussuriano. O representamen pode ser a imagem sonora ou visual de uma palavra (por exemplo, Granada); o interpretante, a imagem mental associada (a cidade); o objecto, que pode ser real, imaginável ou inimaginável (a própria cidade de Granada).

Leitura: José Augusto Mourão e Maria Augusta Babo (2007). Semiótica. Genealogias e cartografias. Coimbra: MinervaCoimbra. Os autores são docentes na Universidade Nova de Lisboa



loading...

- Morte Do Professor JosÉ Augusto MourÃo
Foi conhecida ao fim da manhã a morte do professor José Augusto Mourão. Sobre ele, escrevi notas de um livro que publicou conjuntamente com Maria Augusta Babo aqui. Com muita investigação feita na área da semiótica, era  professor associado...

- Escrita, MemÓria, Arquivo
Este é o título do mais recente número da Revista de Comunicação e Linguagens, da Universidade Nova de Lisboa, organizado por Maria Augusta Babo e José Augusto Mourão, docentes do departamento de Ciências da Comunicação daquela universidade....

-
SEMIÓTICA E INDÚSTRIAS CULTURAIS A semiótica é um movimento de pensamento que se pode qualificar de europeu e mesmo continental pois as suas raízes são francesas e italianas e ilustram a distância perante o modelo funcionalista de Lazarsfeld,...

-
A SEMIÓTICA E PEIRCE   [texto inicial de 27.10.2003 produzido para o blogue Teorias da Comunicação e que serve, agora, de apoio ao conceito de interpretante, incluido na mensagem de ontem]   Enquanto teoria, a semiótica realça a...

-
SEMIÓTICA Enquanto teoria, a semiótica realça a comunicação como geradora de significação. Com ela, constitui-se um novo conjunto de conceitos: signo, significação, ícone, índice, denotação, conotação, paradigma, sintagma. No centro...



Coisas e Coisas








.