MOMENTO DA VERDADE
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MOMENTO DA VERDADE



Não vi ainda o novo programa de Teresa Guilherme, Momento da Verdade, mas já li muitos comentários sobre o mesmo, o primeiro dos quais escrito por Eduardo Cintra Torres no Público de há uma semana atrás. Na segunda-feira passada, Manuel Pinto, da Universidade do Minho, escrevia acerca do programa no jornal digital Página 1. Ontem, na sua habitual coluna do Público, Graça Franco tinha como assunto o mesmo tema, apontando ainda para um artigo-comentário do presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, o que me levou a pensar no assunto.



Mesmo sem ter visto o programa, o que me inibe de tecer um comentário totalmente justo, pois me baseio apenas nos comentários escritos, há algumas reflexões a fazer. Primeiro, não vigora nenhum regime de censura no país, pelo que qualquer programa pode ser emitido, desde que não quebre regras de bom senso e de conduta moral. Ciclicamente, há vozes que se levantam contra determinados programas, que ofendem a moral e os costumes. Lembro-me do Big Brother, cuja abjecção também me dei conta aqui. E também de Morangos com Açúcar, hoje sem fortes críticas, apesar do programa se manter no ar. A existência de regulador é precisamente para analisar casos que quebrem regas.

Segundo, a existência da televisão comercial generalista passa pela obtenção de cada vez mais audiências. Isso é gerado por programas que chamem a atenção pública, e que incluem o inédito e o escândalo. O saudoso Eduardo Prado Coelho - às designações de paleotelevisão e neotelevisão, ou grosso modo, a televisão pública de canal único e a televisão comercial - acrescentava a designação pós-televisão, querendo ele dizer a televisão em que o indivíduo anónimo, não conhecido do grande público, entra na televisão e participa em programas onde a regra é expor as suas fraquezas e intimidades. O Big Brother, de novo, representaria um elemento fundamental na definição desse critério. Agora, mais abjecto ainda é o programa de Teresa Guilherme, como se lêem nas críticas. A SIC tem necessidade de se aproximar das audiências da TVI, de quem se afastou desde 2000. Um programa que dê escândalo é uma boa forma, dentro da etiqueta da pós-televisão, de chamar audiências. Não será um programa informativo, antes de riso cavalar, mas é uma maneira de ganhar mercado.

Terceiro, as empresas de comunicação, neste caso a televisão, são as principais interessadas. Devem auto-regular os seus conteúdos, pois um sucesso de momento pode tornar-se fracasso à distância.

Quarto, competindo ao Estado regular e não estar no negócio - que no caso não é verdade pois dispõe de canais públicos -, tem de possuir um órgão firme que verifique o que se passa. Li que o presidente da ERC considera o programa próximo da prostituição mas que não pode fazer nada. Porque o programa é um formato importado e que está (ou esteve) em exibição em muitos outros países, o que quer dizer que não se pode imiscuir num modelo já transmitido, sob o risco de ser chamado censor. Sei que o regulador está preocupado desde o seu começo, quando lançou um concurso para um estudo de análise do impacto dos programas de televisão sobre públicos sensíveis ou especializados, trabalho esse que deve estar em vias de conclusão, presumo.

Ora, se o Estado deve regular, os cidadãos têm de se unir em volta de temas que lhe dizem respeito: o desemprego, a poluição, o sucesso escolar, e a televisão. A meu ver, há duas formas simples de organização: a criação de uma opinião pública forte, caso dos textos expressos acima, e a instituição de organismos privados sem fins lucrativos que se tornem vozes activas em termos de pressão como associações de espectadores ou observatórios. Se queremos ter uma sociedade mais equilibrada, sem ou com menos problemas, temos de encontrar soluções.


[imagem de uma casa de prostituição no distrito de luz vermelha de Amsterdam; apesar de "não poder", por o modelo estar instituído há séculos, a autarquia holandesa procura reduzir a dimensão geográfica do distrito de luz vermelha, substituindo esses espaços por galerias e espaços de criatividade envolvendo jovens e instituições de lazer e cultura]




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