2º - Paulo Henriques aparece em artigo de Maria José Oliveira, a partir de entrevista, no jornal Público, no dia 3 de Setembro último, quando assume o cargo de novo director do MNAA. Diz adoptar uma política de três erres: recuperar o prestígio do museu, reatar a investigação das colecções de artes plásticas e decorativas, revitalizar os serviços de educação e divulgação. Sobre mostras internacionais, o novo responsável quer as "já produzidas e com real qualidade científica ou produzidas por solicitação do MNAA". O perfil do novo director do museu, a duas colunas, fala do seu olhar equilibrado.
3º - na edição de hoje do Público, a mesma jornalista da peça anterior, Maria José Oliveira, dá conta da tomada de posse do director pela ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima. As primeiras palavras da ministra foram para o "novo ciclo de vida" do MNAA, um "virar de página na orientação da programação". Referiu-se à perda do segundo lugar do MNAA em termos de visitantes no ranking dos museus nacionais, pelo que a captação de novos públicos precisa de ser conduzida pelos serviços de educação do museu. A ministra questionou ainda as fórmulas publicitárias adoptadas no tempo da anterior direcção, sem contudo a mencionar explicitamente.
Não me interessa aqui criticar ou elogiar um ou outro dos três agentes envolvidos nas notícias (Dalila Rodrigues, Paulo Henriques, Isabel Pires de Lima), mas tão só referir duas ou três ideias. A primeira é a adequada forma jornalística dada ao assunto: uma página de opinião a Dalila Rodrigues na altura de saída do cargo, o perfil do novo director Paulo Henriques e o seu pensamento estratégico sobre o museu, as palavras da ministra na tomada de posse de Paulo Henriques. A segunda tem a ver com as mensagens que cada agente disse no momento próprio: Dalila Rodrigues defendeu as suas posições de três anos de directora do museu, os dois outros agentes falam de novas orientações.
Aqui é que eu temo mais: um novo dirigente, ainda por cima com o respaldo do ministério da tutela, aponta - polidamente, como tem de acontecer - graves falhas ao anterior dirigente. Para o leitor, que não acompanha diariamente o que se passa dentro de uma instituição, parece que o que foi feito anteriormente o foi de modo muito mal feito. Agora, vem um tempo de recuperação e de razão. Ora, a história das instituições não é feita somente deste corte de dirigentes mas de muitas outras variáveis.
Criticar a estratégia de um dirigente anterior, quando o currículo dele é muito bom, é errado. E se o próximo dirigente critica o actual? Sendo oficiais do mesmo ofício, fica deselegante e é incorrecto. A polémica apenas serve o poder político de serviço e mais ninguém.
A formação de públicos é algo que atravessa toda a sociedade e não apenas a vontade de um gestor. Qualquer museu continua a ser frequentado por escalões altos do ponto de vista social. Sem ser fatalidade, as classes C2 e D preferem o centro comercial e o cinema ou o estádio de futebol. Depois, vem o dinheiro: se houver cortes orçamentais, por muito bom que seja o dirigente, este não consegue atingir objectivos. Além disso, os museus têm técnicos e pessoal operacional nos museus. Dificuldades administrativas podem vir daqui, esbarrando com a vontade dos directores, pessoas nomeadas a prazo e que se vão embora ao fim desse tempo.
Um último ponto é a da relação com os media, afinal um ponto fulcral na promoção dos acontecimentos num museu. Embora se possa criticar, a publicitação de exposições de um museu tem o efeito da moda (podendo aproximar-se do sentido do espectáculo), o que leva as pessoas a ver o que se passa naquele sítio tão falado. Dalila Rodrigues, muito intrusiva na sua relação com os media e outros agentes sociais, coloca os museus que dirige na rota da moda; pode não construir públicos (cultivados e especializados no sentido do Observatório de Actividades Culturais) mas abre o leque de visitantes (públicos liminares e displicentes, segundo o mesmo observatório). A conquista de mais entradas nos museus passa praticamente quase por estes e não por aqueles.