Jornalisten bundamolensen
Coisas e Coisas

Jornalisten bundamolensen


Carta ao jornalista dinamarquês que ficou chocadinho com o Brasil e desistiu do sonho de cobrir a Copa do Mundo.

Prezado Mikkel Jensen ou “jornalisten bundamolensen” (para falar um dinamarquês bem claro),

Eu adoraria fazer uma cobertura jornalística sobre a bela primavera em Copenhague. A cidade ensolarada e cheia de gente com consciência ecológica pedalando de lá pra cá. Se você me fizer um convite, vou praí com grande satisfação. Desde que o convite inclua, claro, passagem aérea, hospedagem e alimentação.

É muito bom cobrir belas primaveras em qualquer cidade ensolarada do mundo, mas, quando a gente escolhe ser jornalista, precisa estar preparado para tudo, coisas belas ou não.

Mazelas, tragédias, desgraças em geral fazem parte da nossa realidade de jornalista.

Jornalista chocado com a realidade é como um cirurgião chocado com sangue ou uma ninfomaníaca com direito a volumes 1 e 2 chocada com uma “pirocassen” ou uma “xoxotassen” (aliás, estas foram as primeiras palavras que me ensinaram em dinamarquês).

E você, meu caro, chocado com o que ouviu ou imaginou do Brasil ainda abriu mão do sonho de cobrir uma Copa do Mundo? Que porra de jornalista você é, afinal?

Aqui, no Brasil, há muitas coisas lindas para se cobrir, mas aqui também se matam crianças. Se matam velhos, Amarildos, se queimam índios. Violência social é com a gente mesmo. E é por isso que o Brasil precisa tanto do olhar sem medo dos jornalistas.

Não basta ter sangue viking correndo pelas veias. É preciso ter sangue de jornalista correndo pelas veias.

Para não me alongar, paro por aqui. Fico aguardando um convite seu para cobrir a bela primavera em Copenhague. Não me importo de viajar em classe econômica, ok? E torço muito para que você reconsidere sua decisão e volte ao Brasil para realizar o seu sonho. Venha mesmo, mas, por favor, sem “mimimissen” (para falar um dinamarquês bem claro).

Cordialmente,
Duda Rangel


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