JORNAIS GRATUITOS
Coisas e Coisas

JORNAIS GRATUITOS



Escreve Rita Espanha na mais recente newsletter do OberCom:

Podemos então sugerir que o crescimento dos gratuitos, pode ser também uma oportunidade. Ou seja, uma forma de estimular "o regresso à leitura". A própria apetência dos mais novos para a utilização da internet, em detrimento de mais horas em frente ao televisor, parece poder gerar hábitos mais próximos da leitura do que o visionamento televisivo e audiovisual. Susceptíveis a uma socialização entre várias realidades mediáticas, onde a leitura tem, apesar de tudo, uma importância grande, realidades essas umas vezes concorrentes mas a maior parte das vezes complementares, os jovens desenvolvem-se no meio de uma multiplicidade de escolhas e opções de comunicação, informação e entretenimento. Essas opções levam ao estímulo de novas e "velhas" competências, adquiridas quase intuitivamente, pelos mais novos. A leitura, em novos ou diferentes suportes, parece ser uma delas. Estamos assim, aparentemente, perante novos leitores, quase inesperados, num contexto em que nos habituamos a "julgar" os mais jovens como não leitores. Serão leitores sim, não necessariamente dos mesmo conteúdos e não necessariamente nos mesmo suportes. Enquanto os jornais tradicionais parecem ter alguns problemas em atrair uma audiência mais jovem, os jornais gratuitos têm uma audiência bastante mais juvenil. A Metro Internacional divulgou recentemente que 70% dos seus leitores se encontra nas faixas etárias com menos de 45 anos.

Será mesmo assim, pergunto?

Da minha observação empírica, há pontos em que discordo de Rita Espanha. Ler jornais gratuitos é feito onde eles os há: junto a estações de metro ou em cruzamentos de ruas movimentadas nas principais cidades. O que significa: onde existe mais população e maior consumo de bens. Os jornais gratuitos vivem da publicidade neles contida, a publicidade surge onde há mais consumo. Qualquer nível etário lê esses jornais, basta andar de metro. Jovens e não jovens lêem esses meios de comunicação. Os jornais gratuitos não dão informação de profundidade. Por exemplo, os jornais gratuitos não incluem informação produzida pelas newsletters do OberCom. Para se ser cidadão consciente (informado) é preciso ler mais.

Certo é que há uma mudança de consumos, e ignorar isso é esconder a cabeça na areia. Os conteúdos oferecidos são crescentemente mais lúdicos. Basta pensar nos consumos de televisão, videojogos e serviços de telemóvel. Mas isso corresponde a uma mais lenta maturação intelectual em cada indivíduo. A oferta de serviços, desde o correio electrónico gratuito à música retirada da internet sem qualquer pagamento faz parte de uma cultura actual, em que o jornal gratuito se inclui. Claro que há contrapartidas, algumas delas ainda não vislumbradas por nós.

Um exemplo apenas, e noutro sector: a "festa" feita esta semana com a inauguração de uma loja IKEA em Matosinhos, com directos pela televisão, representará, por muito que se diga ao contrário, a perda do tecido produtivo directo e indirecto da indústria tradicional de mobiliário e das lojas espalhadas por muitas ruas e cidades do país. Basta dar uma volta pela avenida de Almirante Reis, em Lisboa, e ver o comércio dedicado ao mobiliário. Eram lojas anacrónicas que já deviam ter fechado há muito, dizem. Possivelmente sim, mas esses lugares estão a tornar-se medonhos, com as portas fechadas e grafitadas, onde não circula quase ninguém nos passeios.

Sem ser pessimista, quero alertar a atenção para o modelo optimista de alguns sociólogos das consideradas novas tecnologias. Há novas tendências mas elas precisam de ser analisadas, para ver o que se ganha, o que se perde e, em especial, o que altera no tecido social e cultural.

O "regresso à leitura" significa um tempo anterior de leitura. E ele existiu? Portugal teve sempre a malapata de ler poucos jornais, o que significa que o postulado inicial é errado.



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