Coisas e Coisas
INVESTIGAR A HISTÓRIA DOS MEDIA (I)
Um livro fundamental para quem queira estudar a história dos media é o editado por Donald G. Godfrey, Methods of historical analysis in electronic media (2006), com diversos contributos.
Um deles pertence a Louise M. Benjamin, em "Historical evidence: facts, proof and probability". A investigadora parte do princípio que as fontes primárias tradicionais incluem evidência original não filtrada – registos escritos, materiais impressos e escritos, registos pessoais publicados e não publicados, documentos oficiais, fontes orais intervenientes no acontecimento, fotografias, registos de rádio e televisão, registos de televisão por cabo, fontes dos novos media, histórias orais e elementos físicos (como os aparelhos de rádio ou de televisão).
Louise Benjamin chama a atenção para o modo como cada escola de historiadores recria o passado. Pode ler-se este como uma evolução da sociedade e uma explicação e avaliação positiva de contributos individuais e colectivos para o desenvolvimento (escola desenvolvimentista). Mas pode haver igualmente uma interpretação de progresso, através de noções de tensões ideológicas, em que o passado foi palco de lutas pela mudança social, progresso e democracia. A premissa fundamental da história cultural é que os eventos acontecem e os actores operam nos acontecimentos em interrelação com o seu ambiente ou cultura. A escola da nova esquerda adoptou a teoria marxista a uma história cultural e social progressiva. [A escola do determinismo tecnológico atribui um peso enorme ao desenvolvimento tecnológico].
A história não é simplesmente a descrição de narrativas de histórias individuais, mas uma declaração de assunções e métodos consciente e articulados totalmente, com recurso a generalizações, conceitos e teorias (plural), que carecem de experimentação por métodos empíricos, com um sujeito complexo mas definível e sempre em busca de novas fontes e meios de as explorar.
Os historiadores preferem o uso de materiais originais e não publicados. Colecções de manuscritos podem conter todos os tipos de documentos pessoais, desde correspondência pessoal, memorandos e relatórios até diários pessoais, registos familiares e álbuns ou livros de recortes. Estes materiais são bons para os historiadores. Bibliotecas, arquivos e repositórios como ficheiros de sociedades históricas e famílias privadas abrigam e preservam materiais de fontes originais.
Outro dos textos pertence a Michael D. Murray, onde escreve sobre registos de história oral, sobre a memória humana. As histórias orais consistem em entrevistas conduzidas com pessoas que têm ou tiveram conhecimento e experiência directa ou indirecta com uma área específica. A história oral tem um longo passado na história universitária, que podemos remontar ao uso do gravador de som desde o final da II Guerra Mundial. Com a introdução do gravador de som, a história oral foi adicionada às metodologias – uma forma de pesquisar informação até aí limitada pela tecnologia. As entrevistas de história oral fornecem uma nova dimensão como parte do registo histórico. Elas são planeadas, transcritas para publicação e preservadas como parte da evidência histórica para historiadores e investigadores no futuro.
A maior crítica que se possa estabelecer ao valor da evidência de uma entrevista de história oral, continua Michael D. Murray, relaciona-se com as falhas de memória, por aproximação ao objecto, ou tentativas de distorção a realidade histórica para elevar a própria reputação, e influência do tempo e espaço na memória. Assim, alguns relatos são melhores do que outros em termos de história oral. A segunda crítica principal tem a ver com a proximidade do entrevistado face ao objecto de investigação. A memória fornecida pelos entrevistados transporta naturalmente uma perspectiva pessoal. A percepção é a sua realidade e não necessariamente a verdade histórica. Entrevistar alguém por próximo de um acontecimento é uma experiência única devido aos contributos específicos. O necessário é distinguir pontos de vista e verificá-los posteriormente em termos de investigação complementar. Se se provar que a história é verdadeira, a história oral fornece colorido na narrativa manuscrita e na documentação primária.
[continua]
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