Coisas e Coisas
Em memória de Luzia Maria Martins
Luzia Maria Martins (1927-2000), conjuntamente com Helena Félix (1920-1991) e Valentina Trigo de Sousa formaram o Teatro Estúdio de Lisboa em 1964, companhia estabelecida no Teatro Vasco Santana, a Entrecampos, e com actividade até 1989. A exposição da Sociedade Portuguesa de Autores, agora patente no Museu Nacional do Teatro, dá conta do trabalho dessa grande encenadora, filha do cenógrafo Reinaldo Martins, que também passou pela rádio, nomeadamente o Rádio Clube Português. Esta experiência foi fundamental para a sua entrada na BBC Radio, onde foi locutora e produtora nas secções portuguesa e brasileira (1953-1964).
Em Londres, Luzia Maria Martins frequentou os cursos de filosofia, cinema, encenação de bailado e luminotecnia. Nessas andanças, conheceu Helena Félix, que também residia em Londres, a qual, antes da estadia na capital inglesa, trabalhara em opereta e revista aproveitando a sua beleza e dotes vocais. De regresso a Portugal, as duas estariam na criação do Teatro Estúdio de Lisboa (TEL), como acima indico. A companhia foi uma escola de teatro, pois por lá passou mais de uma centena de actores, muitos em começo de carreira. O TEL estreou autores como Alexander Ostrovsky, Vaclav Havel, Thornton Wilder, Terence Rattingan, David Storey e muitos outros, alguns traduzidos pela própria Luzia Maria Martins (total de 18 traduções), mas também representou Tchekov, Strindberg, Giradoux, Duras e Alberti. Na crónica
Lisboa 1972-74, aparece pela primeira vez a canção
Uma Gaivota Voava, Voava, cantada por Ermelinda Duarte.
O TEL teve uma grande importância na história do teatro recente mas ainda não foi feito o reconhecimento devido, antes e depois de 1974. Acrescente-se que a censura do Estado Novo cortou ou proibiu diversas peças. Luzia Maria Martins ficaria como uma resistente face a preconceitos de diversa ordem, às vezes por ser muito voluntarista ou militante, e falta de apoios. A exposição é composta por painéis com apresentação dos principais elementos das peças representadas pela companhia, adereços, peças de vestuário usadas por Helena Félix e outros actores, maquetas de algumas peças e documentos escritos e outro material impresso.
[o texto segue o catálogo da exposição, escrito por José Carlos Alvarez, director do Museu Nacional do Teatro, e apresentação de José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores]
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