Coisas e Coisas
DOS ARTICULISTAS
Leio sempre o que José Pacheco Pereira (Público, quinta-feira) e Miguel Sousa Tavares (Expresso, sábado) escrevem, mesmo que nem sempre concorde com eles. O que ambos publicaram esta semana deixa-me preocupado.
O primeiro fala sobre perda de intimidade e privacidade através dos media. Pacheco Pereira comenta um artigo do Expresso, de 14 do corrente, sobre o casal Sócrates, isto é, sobre o primeiro-ministro e Fernanda Câncio, jornalista do Diário de Notícias, apresentada como namorada daquele, intervenientes num determinado assunto público e político.
O articulista, por achar que o casal Sócrates-Câncio procura a sua privacidade, entende que "essa exposição forçada e gratuita notoriamente incomoda". Neste caso, um jornal de referência seguiu o trilho das revistas cor-de-rosa, pois estas enveredaram há muito pelo caminho do desrespeito de direitos de privacidade. Nos últimos dias, a capa de uma revista especulava que o mesmo casal nem sequer se cumprimenta quando se encontra em actividades públicas, por destrinça entre público e privado.
Mas nem só as revistas, também a televisão faz o mesmo, até em causa própria, como ontem à noite a SIC transmitia uma reportagem sobre Luciana Abreu. A intérprete de Floribella queixava-se que as revistas têm escrito um conjunto de mentiras sobre si, para vender mais. Nas duas últimas semanas, falou-se de uma doença que a perseguia, da paixão real pelo actor que interpreta o papel de galã na série e contracena consigo, do alto salário auferido e da aquisição de uma casa para si por um preço elevado. Claro que, ao mesmo tempo em que a jovem actriz falava desse desrespeito pela vida privada, a televisão mostrava pormenores da novela, com Floribella a beijar o galã.
A ficção e a realidade transmutam-se, nas revistas como na televisão. Mas também na internet, como tem sido anunciado esta semana, a propósito de um pretenso plágio efectuado por Miguel Sousa Tavares no seu muito vendido romance Equador (mais de 250 mil exemplares). A dúvida começou num blogue anónimo e os jornais serviram-se desta pista para confrontar o jornalista escritor.
Lendo atentamente Miguel Sousa Tavares, e tomando como verdadeira a sua defesa, há que repensar o fenómeno da blogosfera. Um blogger [uso aqui o vocábulo inglês, para não contaminar a palavra que emprego habitualmente] anónimo não oferece credibilidade, excepto - repito e destaco a palavra excepto - se actuar como fonte anónima e não ter outra forma senão esconder-se no anonimato para denunciar um escândalo ou situação pouco clara, por temer represálias de terceiros.
Claro que o desespero ou a indignação de Sousa Tavares leva-o a escrever algo menos consentâneo com o que publica. Para ele, o universo dos blogues "é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres". Há não muito tempo, o mesmo autor falara dos escritores, universo a que pertence, como tendo igualmente problemas estruturais: mordomias exageradas, deslocações a todo o mundo para debitar as mesmas ideias, exibição de poder em hierarquias bastante rígidas. Por esta descrição não poderemos generalizar e desprezar o mundo dos escritores. Ou dos jornalistas. Ou dos blogues.
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