Coisas e Coisas
Crônica sobre o frila fixo
Ela não é a mulher oficial, não está presente no almoço da Páscoa, nem na ceia de Natal. Mas também não é uma avulsa qualquer. Mora no flat modesto do centro que ele paga, local em que se consome o sexo clandestino. E frenético. Ser a amante fixa não é o que ela esperava para sua vida, mas é melhor do que ser uma solteirona amarga, como as amigas.
No jornalismo, o frila fixo tem o papel da amante fixa. Ele não tem vínculo empregatício com a empresa de comunicação. Mas também não é um avulso qualquer. Está diariamente na redação, explorado como qualquer outro, apenas sem direitos trabalhistas. Não é o que ele esperava para sua vida, mas é melhor do que estar desempregado, como os amigos.
Assim como a amante fixa sonha um dia ser a patroa, com direito aos eventos familiares e a uma vida estável, o frila fixo também deseja o vínculo oficial, com direito aos benefícios da carteira assinada. E a uma vida estável.
Comecei no jornalismo como frila fixo. Cobertura de férias da Cidinha, repórter de Turismo, que naquele ano foi com o marido descansar em Ubatuba. Ou foi Peruíbe? Faltava pouco tempo para a Cidinha voltar, naturalmente toda picada por borrachudos, e eu já me imaginava de novo na sarjeta. Foi quando descobri que a Norma, repórter de Economia, sairia de licença-maternidade. Graças ao milagre da vida, no caso da vida do filho da Norma, eu alcancei o milagre de ficar mais quatro meses como frila fixo.
Tão logo o jornalista se torna um frila fixo, conhece algumas artimanhas, como o esquema da nota fiscal. O frila fixo só recebe a miséria de seu “salário” se apresentar uma nota. O Reinaldo era o rei da nota fiscal na redação. “Duda, o esquema é muito bom, firma em Carapicuíba. Conhece Carapicuíba? Lá se paga uma merreca de imposto”, explicava. Por muito tempo, o Reinaldo foi o meu fornecedor de notas fiscais de Carapicuíba.
Como ocorre com muita gente, fui pulando de cobertura de férias em cobertura de férias, de licença-maternidade em licença-maternidade, até um dia ser oficialmente contratado. A amante virou esposa. FGTS, 13º salário e a esperança de uma vida melhor.
No início, você até se empolga, mas logo se dá conta de que a tal estabilidade não é grande coisa. No caso das amantes, muitas percebem que ser a oficial é até pior. E ficam cheias de saudade do sexo clandestino e frenético no flat modesto do centro.
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