Condenados à liberdade
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Condenados à liberdade


Depois de ler A Idade da Razão, do Sartre, alguns anos atrás, passei a conviver com a certeza de que essa coisa de ser livre é muito complicada. É irônico dizer isso, mas a liberdade, se não se sabe dela gozar, pode ser também opressora e sufocante. Como é difícil ser dono da própria vida, das próprias decisões. O jornalista, esse ser meio esquisito de quem sempre falo, é um dos que penam para aprender a ser livre.

Já conheci jornalistas – e sou um deles – que passam a vida blasfemando contra a dureza das redações, o trabalho insalubre, o chefe chato. Até o dia em que, por vontade própria ou não, libertam-se. Vão traçar seus próprios caminhos, bem longe da empresa que os explorava. Mas muitos jamais saberão ser, simplesmente, livres, assim como os ex-escravos negros de Manderlay. Ficam loucos para voltar à redação, aos antigos senhores, como se fosse impossível viver sem eles. Agarram-se aos antigos hábitos da dominação.

Há um outro tipo de jornalista, mais jovem, que adoraria ter vivido a época da ditadura. Bons tempos, pensam esses ingênuos, eram aqueles do chumbo grosso. Deveria ser irado protestar, subverter, ser preso ou criar um grupo revolucionário com aqueles nomes cheios de siglas. Veio a democracia, suspendeu-se a censura e a graça acabou. Com a liberdade política, este jovem é um acomodado. E nem se dá conta de que neste mundo de hoje ainda há espaço para muitas lutas, contra racismos, morais religiosas e outros tantos males.

Até a liberdade pós-casamento é de uma estranheza só. Quando, tempos atrás, minha mulher me trocou por um garotão, sofri a dor dos seres desprezados. Meu tormento, contudo, durou pouco. Pensei: “Duda, você está livre de um casamento: não precisará mais assistir àqueles filmes chatérrimos da Meg Ryan! Poderá comer todas sem culpa”. Mas logo minha euforia também acabou. A solteirice, às vezes, não faz o menor sentido para mim. Eu, definitivamente, sou um ser meio esquisito.



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