COMUNICAÇÃO E CULTURA
Coisas e Coisas

COMUNICAÇÃO E CULTURA



Foi agora lançado o número 3 da revista Comunicação & Cultura, da Universidade Católica Portuguesa, dirigida por Isabel Gil.

Este número temático - comunidade e mobilidade, organizado por Carla Ganito, em torno dos novos media como o telefone celular - tem artigos sobre a matéria: Gustavo Cardoso, Maria do Carmo Gomes, Rita Espanha e Vera Araújo (OberCom e ISCTE) (Portugal móvel), Carla Ganito (telemóvel e as mulheres), Fernando Ilharco (a perspectiva heideggeriana do celular), Patrícia Dias (impacto do celular na sociedade actual) e José Afonso Furtado (Gulbenkian) (fractura digital e literacia).

Para além de trabalhos de Roberto Carneiro, Pedro Magalhães/Diogo Moreira e Nelson Ribeiro, destaco dois outros textos, o primeiro dos quais é de Michael Schudson (O modelo americano de jornalismo: excepção ou exemplo?). Escreve o professor americano:

Os americanos de hoje parecem acreditar que os jornalistas são, ou deviam ser, uma correia de transmissão de factos neutros sobre acontecimentos mundiais. [...] Os jornalistas americanos orgulham-se não de escrever peças de advocacia, mas de serem atacados tanto pela esquerda como pela direita por "escreverem ao centro" (Broder, 1973: 235). Jogar ao centro tornou-se um ideal profissional estimado nos Estados Unidos - e também em qualquer outra parte, mas não de uma forma tão completa nem tão duradoura quanto nos EUA (p. 119).

Schudson dá igualmente relevo à prática da entrevista, que surge nos Estados Unidos por volta de 1880 e chega à Europa apenas depois da I Guerra Mundial (p. 121), à perda gradual do jornalismo partidário para um jornalismo onde imperam as relações públicas (isto é, em que as fontes oficiais têm estruturas para produção de informação) (p. 122), novas práticas do jornalismo a seguir a 1960, por causa da guerra do Vietname, com um distanciamento profissional crescente face às fontes oficiais (pp. 124-125) e passagem da censura governamental à censura económica (p. 126).

O outro texto a não perder na revista Comunicação & Cultura tem a assinatura de Emídio Rui Vilar, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, que leu na sessão de abertura dos mestrados e pós-graduações da Universidade Católica Portuguesa, no passado dia 7 de Novembro de 2006 - e que eu fiz aqui referência. Título: Sobre a economia da cultura. Ele escreve sobre um tema que me é particular e que constitui o cerne deste blogue. A não perder a sua definição de sector cultural e de sector criativo (p. 136).

O blogueiro cá de casa escreveu uma recensão sobre os livros mais recentes de Henry Jenkins (Convergence culture. Where old and new media collide; Fans, bloggers and gamers. Exploring participatory culture; ambos de 2006). Fica aqui um aperitivo:

O autor, professor do MIT, onde é director da área de estudos comparativos dos media, trabalha conceitos e a relação entre eles: convergência dos media, cultura participativa e inteligência colectiva (2006: 2). Por convergência, ele entende o fluxo de conteúdo que atravessa várias plataformas dos media, em que as indústrias mediáticas cooperam e as audiências procuram novos modos de experimentar o entretenimento fornecido por esses media. E acrescenta que a palavra convergência descreve as mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais operadas na actual sociedade.

A cultura da convergência articula os media clássicos (televisão, rádio, imprensa) com os novos media (blogues, grupos de discussão, facilidades de troca de ficheiros), em que as empresas intersectam os gostos e as actividades das comunidades de fãs. A designação cultura participativa, continua Jenkins (2006: 3), contrasta com a antiga noção de espectador passivo dos media. Já não se fala de produtores e consumidores como tendo papéis distintos, mas de participantes que interagem entre si. Mas também colidem, dados os interesses opostos.

Na cultura participativa, ninguém conhece tudo de tudo mas cada indivíduo acrescenta um conhecimento novo que se pode partilhar na comunidade. As redes electrónicas, a internet, são o veículo ideal. Mas que se servem igualmente das tecnologias anteriores. O fã de Star Trek ou de Twin Peaks, após visualizar um episódio da série, escreve num grupo de discussão, onde dá conta da sua interpretação do programa televisivo e procura interpretar os sinais e adivinhar o futuro.




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