BANDA DESENHADA
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BANDA DESENHADA



Foi numa aula da semana passada que ouvi Nelson Dona, o responsável pelo Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA). Ele falou da banda desenhada (BD) enquanto arte (a 9ª), da linguagem da BD, da apresentação do festival da Amadora e da indústria da BD (mundo editorial).


A BD enquanto arte nasce, conjuntamente com o cinema, do contexto da revolução industrial, com base na imprensa. Logo, a BD implica reprodução – é uma indústria cultural –, onde se fala da imprensa, de revistas, do livro. Em Portugal, o primeiro autor foi Rafael Bordallo Pinheiro, ainda no século XIX. Até aos anos de 1920, usava-se o termo ilustrado para designar um tipo de imagem, caricatura ou desenho. A BD aparecia em jornais. Entre os anos 1930 e meados dos anos 1960, a designação passou a ser história aos quadradinhos (vinheta ou moldura).

Nesses anos 1930, surgiam revistas especializadas com artistas como Almada Negreiros, Stuart Carvalhais e Cottinelli Telmo. Os nomes dessas publicações eram Camarada, Gafanhoto, Pim-pam-pum, designações que evocam públicos-alvo específicos: crianças e adolescentes. E o bissemanal Mosquito (1936-1953), de António Cardoso Lopes, em que as histórias mais longas continuavam em números seguintes, atingindo cem mil exemplares cada número. O Mosquito tinha um suplemento feminino, A Formiga, em tamanho mais pequeno que a revista, dirigido pela tia Nita (mãe do actor Mário Viegas), que escrevia número a número cartas tipo correio sentimental. A partir dos anos 1960, surge a revista Tintim, coordenada por Vasco Granja, começando a privilegiar-se a BD franco-belga. A revista portuguesa seria a primeira feita fora de França e a primeira editada a cores em todo o mundo.

BD, designação adoptada desde finais dos anos de 1960, vindo do francês, significa tira desenhada (inglês: strip) e tira dominical, adquire palavras específicas em cada país. Assim, no Brasil é quadrinho, na América Latina historieta, na Itália fummeto e no Japão mangá. Nos Estados Unidos mantém a designação comics.

A BD é uma narrativa dupla de texto e imagem, situando-se entre a cultura literária e as artes visuais. Um dos pais da BD é Rodolphe Töpffer (1799-1846), gravador e teórico da futura BD, para quem esta era uma associação de literatura e história ilustrada – a literatura gráfica. Outro pioneiro da BD foi Richard Felton Outcault (1846-1905), o primeiro a inserir o balão como espaço de inserção do texto nas vinhetas.

Ora, balão e vinheta fazem parte da gramática da BD, a par de figuras/personagens, onomatopeia, linhas cinéticas (de movimento), quadro (o que está dentro da vinheta), prancha (página), elipse (tempo existente entre duas vinhetas). À gramática junta-se o tempo de trabalho de um álbum: estima-se que um livro como o Tintim demorasse dois a três anos a fazer. E a discussão sobre se a BD é cultura de comunicação de massas – eu prefiro a designação de indústria cultural, dada a sua reprodutibilidade técnica e massificação, como o cinema, a televisão e a internet. A BD perdeu a conotação de ser uma actividade voltada para públicos muito jovens, agarrando hoje leitores de todas as idades.

O FIBDA

O Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA) arrancou em 1990, com apoio da Câmara Municipal da Amadora. Começou com a ideia de jovens quererem fazer um fanzine (fanáticos de magazine). Entretanto, corria um concurso sobre aviação portuguesa em BD, o que ajudou a alicerçar a ideia. Por outro lado ainda, a Amadora era um concelho em que residiam (ou tinham residido) artistas ligados à BD, como António Cardoso Lopes, o responsável pelo Mosquito. Nesse arranque do que é hoje o FIBDA fez-se uma pequena exposição. Simultaneamente, vivia-se um boom da BD, levando os promotores do evento a internacionalizarem-no na terceira edição.

O FIBDA é, actualmente, para além da mostra de novos artistas, lugar para exposições temáticas e de outras estéticas, conferências, venda de livros e promoção da leitura, e prémios (os nossos óscares na BD), com um custo total anual rondando os 400 mil euros, suportados maioritariamente pela autarquia. O festival funciona com um cariz artístico e que integra eventos paralelos que atraem públicos distintos (caso do FIBDA júnior, com ateliês). O FIBDA – e actividades e instituições como o Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem e o serviço de itinerância de exposições – emprega seis colaboradores a tempo inteiro, mas atinge as 200 pessoas por ocasião do festival. A itinerância de exposições está a alcançar diversos pontos do globo, prova da notoriedade e reconhecimento do bom trabalho desenvolvido pela equipa.

A próxima edição do festival vai ter uma boa representação da BD chinesa, grande potência mundial e com elevada qualidade estética, a qual esteve no centro do muito recente festival de Angoulême (França). A entrada da China no mercado mundial da BD veio alterar a correlação de forças entre as várias áreas do planeta. Se os Estados Unidos são o principal produtor e exportador de BD, o eixo França-Bélgica (20% da indústria editorial reside na BD) e o Japão eram outros pólos fundamentais da indústria.



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