Coisas e Coisas
As Editoras Não Conhecem os Blogs
Duas discussões que li recentemente. Primeiro, o Lucas lincou uma discussão sobre os blogs, onde John Sutherland do Daily Telegraph reclamou que pessoas sem credenciais estavam fazendo o papel de críticos literários através de resenhas publicadas na Amazon e em blogs (não vou lincar toda a discussão, leiam o post do Lucas e cliquem nos links porque a discussão é boa, mas é bem grande). A segunda, lincada no post abaixo, é sobre os problemas de se vender livros no Brasil. Num trecho o texto diz:
"Para Marcelo Lachter, da Livraria Imperial, falta-nos aquele crítico que não faz nem a resenha nem a crítica acadêmica. "Falta o bom leitor, que lê bem e consegue explicar o que lê, ajudar os outros a lerem. Esse crítico acabou, o intelectual público, de jornal.""É incrível como as duas discussões estão relacionadas e como há uma falta de visão por grande parte dos envolvidos. Argumentar que pessoas sem credenciais - traduzindo, não-acadêmicos - estão escrevendo sobre livros e literatura para um grande público e que isso é prejudicial é uma das coisas mais bizarras que li nos últimos tempos. Existem pessoas que não tem nenhuma noção de literatura escrevendo em blogs? Bom, elas existem, mas para isso existe essa caixa de comentários aí embaixo. Aliás, isso é uma das coisas mais lindas da internet e dos blogs, fazer com que TODOS tenham voz. Uma opinião está errada do ponto de vista acadêmico? Bem, fique a vontade em discordar e argumentar. Se o ponto de vista acadêmico demonstrar que o dono da opinião está errado, bem, ela não será levada à sério. Simples assim. Em alguns casos isso nem é preciso, os leitores simplesmente abandonam o blog e procuram outro melhor.
Imagino que a razão de alguém escrever para um jornal, criticando os 'não credenciados' é que a ficha ainda não caiu. Para um grande número de pessoas, a internet não é uma revolução. Querem de volta um mundo que já não existe mais, onde se a pessoa estivesse interessado em alguma informação, ela iria a uma biblioteca ou compraria um jornal. Infelizmente, muitos acadêmicos estão incluídos nesse time.
Embora é preciso reconhecer que a academia é muito importante, é também preciso encarar a dura realidade de que os acadêmicos hoje falam somente para seus pares. Já viu alguém na rua discutindo um artigo que saiu numa revista publicada pelas maiores instituições de ensino superior do país? Para a imensa maioria da população, essas revistas simplesmente não existem, ou se já tiveram acesso a alguma, elas são ilegíveis. É ótimo para citar num outro artigo acadêmico e só.
Do outro lado, a grande mídia impressa do Brasil, com sua crise financeira, simplesmente não se dispõe a pagar por um artigo bem feito, com vários argumentos sobre um ponto de vista. Opinião não vale muito numa redação de jornal e sim o que é notícia no momento. Dos cadernos culturais existentes, na maior parte das vezes, leio apenas o "Prosa & Verso" e mesmo assim porque acesso-o pela internet. Não teria disposição para pagar pelo seu conteúdo. A grande mídia se limita a resenhar o que será lançado ou falar de algum evento cultural que se iniciará. E é só.
Para preencher o vácuo entre o artigo acadêmico, que usa uma linguagem própria que dificilmente atingirá a muitos, e a resenha dos jornais, que raramente fala algo inteligente sobre uma obra, hoje temos os blogs, onde podemos encontrar pessoas que opinam sobre o que lêem. A cada dia o acesso aos blogs tem aumentado e, levando-se em conta que o acesso à internet no país ainda é limitado a uns poucos, podemos afirmar que aumentará ainda mais no futuro. Cito o meu blog como exemplo: já são quase 50.000 leitores, 677 comentários em 380 textos. Aparentemente pouco, mas se levarmos em conta que a grande maioria que me encontra está realmente procurando algo sobre livros, são bons números. O resultado é que, em média, são quase 300 acessos ao Submarino por dia. Ou seja, quem lê sobre livros em blogs, interessa-se por comprá-los.
Mas daí surgem os editores reclamando do tal mercado no Brasil. Certamente existem grandes problemas, mas já experimentaram entrar nos sites das grandes editoras? A maioria é de dar pena. A internet, para as editoras, ainda não é uma realidade. Às vezes, encontramos informações sobre lançamentos das editoras em livrarias virtuais, mas não encontramos no site da editora. Se as editoras não se interessam nem ao menos em gerenciar o conteúdo de seus próprios sites, como poderiam prestar atenção no que falam sobre ela nos blogs? Posso apostar que, com uma exceção que conheço, não exista nenhum blog na agenda das assessorias de imprensa das editoras. Como não entendo muito a lógica do tal mercado, também não consigo dizer o porquê disso. O certo é que não faltam caminhos a serem explorados, talvez falte reconhecer os existentes.
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