Dirigido por Michael Haneke, com Jean-Louis Trintignant (Georges), Emmanuelle Riva (Anne) e Isabelle Huppert (Eva), o filme
Amour (
Amor), conquistou o Prémio de Melhor Filme Europeu 2012 e, agora, ganhou o Globo de Ouro (em Los Angeles) de melhor filme estrangeiro. Conta a história de um casal de octogenários (Georges e Anne), antigos docentes ligados à música e à cultura, ainda frequentadores de concertos e tertúlias. Um dia, Anne teve um derrame cerebral e a história anda à volta da sua degradação física e intelectual, dentro de um ambiente familiar de apoio: Georges reensina-a a andar, a repetir palavras e frases, lutar para que ela se alimente. Ainda falam – mas cada vez menos – de livros, de músicas, de cultura.
É uma história de amor feita de cumplicidades muito antigas. Mas o tempo vai revelando a lenta e irrecuperável decadência de Anne. Por seu lado, Georges é obsessivo na ajuda impossível, minimizando a chamada de atenção de Eva, a filha de ambos, que os visita. No final, vendo que não pode recuperar a velha companheira, o homem mata-a por sufocamento e deixa o seu corpo na cama, rodeado de flores, e calafeta as portas e janelas do apartamento e fecha-as à chave. Ele desaparece, como se os dois fossem para uma longa viagem sem retorno.
As primeiras imagens do filme já nos tinham alertado para o final infeliz, com bombeiros e polícias a procurarem abrir a casa e a tapar o nariz devido ao odor do corpo em putrefacção. Rapidamente percebemos a história, mas o filme é outra coisa: a composição, a harmonia, os jogos de contrários, a metáfora (caso do pombo que entram na marquise, uma vez convido a sair para o pátio, outra vez atraído e amordaçado), a cor e a música. Sim, o filme conta uma história da vida, mas quase banal, mas é sobretudo sobre o encanto da música e da imagem.
Quando saí da sala, vinha incomodado pela história de morte, pela morte em si. Mas, depois, com o frio do entardecer, vi mais claro: a vida é assim, ela também é bela assim. O filme é feito em interiores, o da casa onde o velho casal habita. A porta, o longo corredor que dá para o salão e para a cozinha, de um lado, e o quarto do casal para o outro, a marquise e esses dois espaços onde decorrem as cenas mais fortes emocionalmente: a cozinha, onde a doença de Anne se revela, lugar para um pequeno almoço que não quer terminar, apesar de o espectador estar já a vislumbrar a tragédia, o salão, onde o piano se ergue a um lado e o leitor de CD a outro, este junto às cadeiras onde se travam alguns diálogos.
As estrelas que desempenham os principais papéis têm realmente mais de oitenta anos: Jean-Louis Trintignant nasceu em 1930, Emmanuelle Riva em 1927. Ele caminha com alguma lentidão, as pernas parecem não querer obedecer ao impulso de andar; ela mostra como o corpo envelhece mas não deixa de ser terno, caso do seu perfil nu quando está a ser lavada pela enfermeira.
A actriz portuguesa Rita Blanco aparece no filme, no papel de porteira do prédio onde habitam Georges e Anne, personagem que surge por pouco tempo mas com um lado compenetrado da sua função. O português é representado (ainda) como subalterno, como trabalhador.
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