Coisas e Coisas
AINDA O FUTURO DA RÁDIO (II)
Os últimos anos têm sido de angústia para a rádio: acaba a FM, mudam-se as frequências, avança-se para a tecnologia digital? Qual: a do DAB? Tem-se criticado a RDP por ter comprado equipamento DAB, com um custo muito elevado, e sem se avançar muito até agora. Não há receptores a preço popular, não há programas distintos dos oferecidos em FM.
Contudo, um estudo publicado no último Verão (The future of radio, pela Swedish Radio and TV Authority) dá uma visão nova ao DAB. O governo sueco quer, em três anos, um avanço significativo da distribuição digital da rádio. Pontos de partida: a rádio é um meio muito importante na preservação e desenvolvimento da liberdade de expressão, diversidade, actividades associativas, integração e acessibilidade aos meios de massa na sociedade (p. 5).
A geração mais jovem tem abandonado o meio, mas o governo sueco acha que deve haver um incentivo em termos de programação mais alargada e diferenciada, quer no serviço público quer na rádio comercial. É que, se houve quebra em termos de audiência, aumentou o consumo total do meio. Um inquérito aos consumidores suecos na Primavera de 2008 mostrou que 45% dos ouvintes querem ter novas funcionalidades nos seus receptores de rádio. Mas sabe-se que os suecos consomem de modo equivalente rádio e televisão, quando a rádio já foi o meio mais consumido e hoje há um aumento no consumo dos media em geral (p. 26).
Diversas características distinguem a rádio: gratuita, simples de usar, possibilidade de audição em qualquer lugar, quer na residência quer em transportes, permite fazer outras coisas enquanto se ouve, importante como canal de informação em ocasiões de crise e catástrofes.
Há diferentes tecnologias para transmitir a rádio digital: rede de televisão, internet, rede de telefones celulares, rede de FM. O estudo considera que a FM não tem hipóteses de crescer, pelo que outros meios de transmissão serão melhores (p. 8). E a tecnologia escolhida como mais apropriada para a rádio digital é o DAB+, um desenvolvimento do DAB inicial (Digital Audio Broadcasting), usado na Suécia desde 1995 e com protocolos técnicos idênticos em toda a Europa, podendo ir até 80 canais nacionais no espaço planeado de frequências. Outras tecnologias digitais disponíveis são HD, FMeXtra, DRM e DRM+, no campo da rádio, DVB-T, DVB-H, DVB-S, DVB-C e MediaFLO, no campo da televisão, MBMS, no campo dos telefones celulares, IP e rádio Pod em internet de banda larga.
A autoridade sueca para a rádio e televisão SRTVA identificou a melhor tecnologia atendendo às seguintes questões: de que modo a tecnologia satisfaz as necessidades dos consumidores, que funcionalidades oferece a tecnologia, com que eficiência a tecnologia utiliza o espectro de frequências existente, que condições financeiras existem para a tecnologia, como é que a tecnologia chega aos suecos, como se põe operacional a tecnologia, qual o estado de arte da tecnologia no resto da Europa (p. 22)? O relatório indica que uma tecnologia necessita de vários anos para estandardização, sendo necessário que a indústria ligada à rádio acredite que a tecnologia vai desenvolver-se no imediato e com um prazo de implementação que pode ir de 10 a 20 anos. A portabilidade é um elemento fundamental.
A tecnologia DAB é o sistema de rádio digital terrestre com maior expansão no mundo, em especial a Europa. Nos Estados Unidos, a rádio por satélite faz cobertura a nível nacional e os sistemas HD e FMeXtra cobertura regional e local, ocupando as frequências de FM e AM. O Japão escolheu o sistema RDIS (Rede Digital Integrada de Serviços) (p. 88). O sistema DRM tem sido eleito para modernizar as frequências de AM e onda curta. Entre o ano passado e 2008, diversos países tomaram a decisão de opção do DAB e/ou DAB+, como França, Reino Unido, Malta, Suíça, Austrália, Finlândia e Noruega, enquanto República Checa, Itália, Alemanha, Dinamarca e Holanda fazem testes e abrem licenças para operadores de rádio (pp. 89-90).
As diferentes tecnologias têm distintas audições de rádio conforme o quadro indicado acima (p. 44), com a escuta em FM em larga vantagem (mas o estudo não aplica o fenómento iPod, como João Paulo Meneses observa com oportunidade na sua tese de doutoramento). Curiosamente, a audição da rádio em casa e no automóvel têm a mesma percentagem (79%), com 49% os que dizem ouvir no emprego ou na escola e 6% a guardarem um programa em computador ou mp3 (p. 46) (para ver melhor, clicar em cima da imagem).
A digitalização traz questões novas, caso dos direitos de autor, em especial quando um programa corre em várias plataformas. Este é um problema não apenas na rádio mas que tem sido discutido na televisão, na imprensa e nas indústrias de jogos digitais e telemóveis (p. 39).
O estudo conclui, entre outras, com as seguintes razões: 1) necessária uma forma principal de distribuição, 2) a digitalização é um elemento imprescindível, 3) decisão de implementar a regulação e atribuir licenças, 4) criação de serviços públicos, com rádios locais e rádios comunitárias (p. 102).
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