Acordes maiores e menores (a questão da terça)
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Acordes maiores e menores (a questão da terça)


Mostrei a postagem anterior [que relata a teoria física da harmonia e da música ocidental] para um amigo -- o Sr. Francisco Pereira Lobo, morador da cidade de Bielefeld, no outro lado do mundo -- e disse-lhe que finalmente havia entendido a questão sobre a diferença entre um acorde menor e um acorde maior, algo que sempre havia me intrigado e ao qual eu não tinha uma boa compreensão. Faltava-me o entendimento sobre porque chamar tal acorde de maior e tal outro de menor; qual a significância desses nomes e qual a diferença harmônica exata entre eles. Ele respondeu-me que a diferença era óbvia: era a terça. Eu concordei e acabamos passando a discutir outras coisas, ainda sobre música. E então saímos dessas ferramentas de conversa pela internet e passei a pensar sobre a questão mais uma vez. De fato, eu sempre soubera que a diferença entre o acorde maior e menor era a terça e não foi essa a compreensão que adquiri em meus recentes estudos sobre harmonia. Então achei que essa questão merecia um tratamento maior.

A questão é sim ser a terça, claro. Para quem não sabe, um acorde maior é formado pela união de três notas: a fundamental, a quinta justa e a terça maior. (Se você não sabe o que são essas coisas, leia o post anterior a este.) Também o acorde menor é formado por três notas: a fundamental, a quinta justa e a terça menor. A diferença, portanto, como ressaltou o Sr. Lobo, está na terça -- que é maior no acorde maior; e menor no acorde menor. Portanto, os nomes dos acordes.

Voltemos agora à questão da harmonia. Quando uma corda ressoa, ela começa ressoando a nota fundamental seguida pelas seguintes notas: (1) a quinta justa, (2) a quarta justa e então (3) a terça maior e (4) a terça menor. O que importa, portanto, é que o acorde maior é formado por um harmônico que está mais próximo dos primeiros harmônicos que soam quando a corda ressoa. Por isso, talvez diz-se que o acorde maior é mais "feliz" ou soa melhor que o acorde menor, que é mais "triste". Portanto, o que entendi não foi que a diferença estava na terça, isso eu já sabia. Eu entendi que o acorde maior é mais sonoro porque ele repete a ordem dos primeiros harmônicos, já que tem a terça maior -- que aparece antes da progressão harmônica -- ao invés da terça menor. Ao mesmo tempo, o acorde menor também é bastante sonoro -- embora não tanto quanto o maior -- uma vez que apresenta harmônicos ligeiramente mais distantes na progressão; embora falta a ele a terça maior, que soa antes da terça menor. Por isso, mais uma vez, o acorde maior é ligeiramente mais sonoro e agradável do que o acorde menor. A questão, portanto, é uma questão de harmonia e sonoridade ao ouvido humano, não uma questão apenas de um-intervalo-de-semi-tom. O intervalo de terça (maior ou menor) ser sonoro não tem a ver com ser uma terça per si, tem a ver com acontecer -- de acordo com o que sabemos -- das cordas neste mundo vibrarem de uma maneira específica e não de outras maneiras. A teoria harmônica, assim como qualquer boa teoria científica, é fortemente embasada em observações e experimentos feitos com o mundo.

Só pra concluir, o conhecimento e a teoria sobre música são multidisplinares porque envolvem, desde suas bases, duas grandes ciências naturais: a física e biologia. A física no sentido de entendermos quais as características de ondas (em geral), de ondas mecânicas (sonoras, em especial) e de osciladores (cordas vibrando, no caso do violão) e como essas ondas soam diferentemente de acordo com o instrumento musical; e a biologia no sentido de entendermos como o aparato cognitivo do ser humano apreende e interpreta tais "realidades" do mundo físico. (Provavelmente o Chico Lobo vai com quase tudo isso.)




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