Coisas e Coisas
A MORTE DEFINITIVA DO MUSEU DA RÁDIO
Já no dia 22 deste mês, o blogue A Rádio em Portugal se havia referido ao definitivo desaparecimento do museu da Rádio, à rua do Quelhas (Lisboa). Essa mensagem era montada com base na leitura de reportagem da Rádio Renascença, aqui, de autoria da jornalista Dina Soares com imagem e edição da Jornalista Conceição Sampaio [imagem retirada desse vídeo].
Nessa peça, o director do núcleo museológico da RTP, Pedro Brauman, afirma que chegou a estar prevista a construção de um novo museu, mas o projecto não avançou por decisão do Governo e da administração da RTP. Agora, as peças - retirando as que não forem classificadas como tendo valor e jogadas fora, pelo que sei - ficarão numa garagem, nas caves das instalações centrais da RTP.
Hoje, o diário Público pega na questão. Infelizmente sem o fulgor da peça escrita a 1 de Maio de 2004, que ocupara o espaço de uma página (se a memória me não falha), quando agora tem a dimensão de notícia breve. Conclusão: como morreu, já quase não tem valor-notícia.
Por essa altura, aqui, neste blogue, a 14 de Maio de 2004, eu escrevia: "Faz hoje doze (12) anos que abriu as portas o Museu da Rádio. Escreve Matos Maia no seu livro Telefonia (Círculo de Leitores, 1995, p. 296): "O Museu foi uma ideia do Rádio Clube Português, na década de 60 [...]. [Ela] partiu de José do Nascimento, quadro superior do Rádio Clube Português [...]. Desde a primeira hora, colaboraram com José do Nascimento, no projecto, outros dois colegas do RCP: Manuel Bravo e Armando Leston Martins". Depois, seguiram-se várias vicissitudes, acabando o Museu por ser inaugurado em 14 de Maio de 1992. O museu tem cerca de cinco mil peças e recebe anualmente à volta de doze mil visitantes".
Alguns dos blogues mais relacionados com a rádio promoveram uma petição que chegou a ter um certo impacto (não consigo recuperar o link, por presumivelmente estar já desactivado o blogue que tomou a iniciativa). Eu escrevi uma carta à administração da RDP, protestando contra o desaparecimento do museu, que me respondeu (ver em 28 de Maio de 2004), onde eu li: "o actual Museu da Rádio não será «desmantelado». Pelo contrário, a instituição dará oportunamente lugar ao futuro Museu da Rádio e Televisão, passando a incorporar também o espólio do núcleo museológico da RTP". A mesma carta indicava ainda que o museu da Rádio e da Televisão seria instalado "em local adequado quer à boa conservação das peças como à sua efectiva disponibilidade". Aquando da tomada de decisões, elas teriam divulgação pública.
Mais tarde, a 18 de Abril de 2006, voltei ao assunto: "O certo é que o museu está já fechado desde o começo do mês. NÃO SE FAZ UMA COISA DESTAS. Temos direito à indignação".
Agora, estou muito mais indignado. Por causa do museu que desaparece, erro que se deve atribuir à administração cessante da RTP e ao actual Governo. O ministro que tem a tutela do serviço público do audiovisual foi alertado em 2004 (então deputado da oposição) e prometeu agir de modo a preservar a memória viva do museu, dentro das suas forças. Nada se fez; outro museu - o da Arte Popular - irá desaparecer e transformar-se em espaço virtual da língua portuguesa. Para mim, o presente Governo será responsabilizado pela destruição de dois museus. Claro, parafraseando a ministra da Cultura em finais de Outubro do ano passado: "A vida dos museus não é eterna. Eles nascem, vivem e morrem. Não devemos estar presos a uma atitude conservadora" (ver minha mensagem de 31 de Outubro de 2006). A questão é que os cidadãos têm memória e não esquecem quem faz as acções públicas!
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