Coisas e Coisas
A Copa do Mundo liberta o jornalista!
Há uns raros que assumem a paixão clubística publicamente, mas os jornalistas esportivos, no geral, preferem não revelar o clube de coração. É claro que todos têm um clube de coração, porque, muito antes de serem jornalistas, todos já eram torcedores. Mas os profissionais quase decentes do esporte não gostam de misturar as coisas. Jornalismo exige isenção e credibilidade. Então por que não fazer um esforço para fingir credibilidade?
A preocupação em ser isento, ou melhor, em parecer isento, tem uma exceção: a Copa do Mundo. Nos Mundiais, os jornalistas mandam a hipocrisia para a casa do caralho e torcem pelo Brasil sem o menor pudor. Aliás, jornalistas de vários países torcem por suas seleções na maior cara dura. As tribunas de imprensa dos estádios da Copa chegam a lembrar, em alguns momentos, a geral do Maracanã. A única diferença é que os jornalistas não carregam imagens da Nossa Senhora da Aparecida nos ombros.
Todo mundo critica o ufanismo do Galvão Bueno, mas tem muito jornalista brasileiro em Copa do Mundo que canta o hino nacional com a mão no peito. Se estivesse num fórum mundial sobre direitos humanos ou igualdade social, ele teria até vergonha de dizer que é brasileiro, mas, na Copa Mundo, tem é orgulho. Veste, inclusive, uma camisa amarela para aumentar a identificação. Jornalista brasileiro nos estádios da Copa xinga o juiz, o técnico retranqueiro, o zagueiro perna-de-pau e os jornalistas do país adversário que, sem a menor ética – “que ridículos” –, também torcem pela seleção de seu país.
A nova enquete do blog, em ritmo de Copa do Mundo, quer saber que comportamento deveriam adotar os jornalistas brasileiros nas tribunas de imprensa dos estádios na África do Sul para escancarar este lado torcedor. Levar uma geladeira de isopor cheia de latinhas de cerveja? Mijar no copinho d’água e jogar na cabeça dos jornalistas argentinos? Criar musiquinhas como “eu sou jornalista brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”? Promover a “ola” com seus notebooks nas mãos? Bons votos!
A pesquisa que acabou de ser encerrada –
O que você faria caso seu filho (ou futuro filho) revelasse que, assim como você, também quer estudar jornalismo? – teve a vitória da alternativa “
Eu o apoiaria, afinal é uma profissão digna e apaixonante”, com 37% dos votos. Mas como todas as outras três alternativas eram contrárias à transmissão da profissão para a geração seguinte, posso dizer apenas uma coisa: há controvérsias.
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