2) TRANSPORTE PÚBLICO X PLANILHA DE CUSTO
Coisas e Coisas

2) TRANSPORTE PÚBLICO X PLANILHA DE CUSTO




O tema é pertinente porque em todo Brasil reina essa eterna polêmica sobre preço da passagem do ônibus. O núcleo central dessa discussão passa pela malfadada Planilha de Custos, que nada mais é que um eficiente instrumento de manobra, cuja principal missão é validar qualquer preço de tarifa que se deseje praticar.

Se você deseja fazer um fretamento de ônibus ou de Van, a discussão do preço gira em torno da quilometragem, ou seja, do percurso desejado e quanto custará por quilômetro rodado, não importando tanto a quantidade de pessoas que vão usufruir.

Já o setor de transporte coletivo, aproveitando-se do monopólio que sempre esteve mercadologicamente ancorado no setor, criou esse bicho papão para tornar um negócio lucrativo num seleto cartório milionário e até bilionário.

Tudo que diz respeito a veículos automotores não tem 100 anos de existência, donde apenas duas ou três gerações foram responsáveis por toda a organização de adaptação, instrumentalização e fenômenização de todas as variáveis possíveis que se possa imaginar dentro do setor.


Desde as regras de mercado, legislações, proteções e autorizações, começaram a ganhar força somente após a década de 30, com o advento da primeira guerra mundial.

Vale dizer que o pai ou o avô dos atuais proprietários de empresas de ônibus urbanos do Brasil foram os responsáveis pelas regras estabelecidas no sistema, incluindo ai a criação dessa fórmula secreta e esperta chamada Planilha de Custos.

Alguém imagina se há 40 ou 50 anos atrás algum usuário do serviço de transporte coletivo foi chamado a participar da elaboração da Planilha de Custos, que foi proposta pela elite do sistema e rapidamente disseminada em todo o Brasil e que vigora até os dias atuais? Óbvio que não, pois, muitos economistas tem dificuldade em entender os meandros da engenharia financeira aplicada nesse labirinto já institucionalizado pelos operadores do sistema.

Basta dizer que no Brasil dos anos 30 e 40 tinha tudo a ser feito. Os pioneiros do setor realmente foram desbravadores, mas sabiam que seria um caminho sem volta, já que no mundo civilizado o sistema já dava sinais de prosperidade.

Os poderes públicos de então eram reféns desses empresários abnegados, pois toda a economia dependia do ir e vir das pessoas e das mercadorias.

Dessa forma, a primeira discussão foi no sentido a recompensar esses desbravadores que literalmente amassaram o barro, resultando em contratos de exclusividade sob períodos bem longos, com a finalidade de recuperar o trabalho e o capital empregados.

Com o êxodo rural que o Brasil viveu no período, não é difícil concluir que essa recompensa veio bem rápido, já que as cidades começaram a crescer a olhos vistos. Em apenas uma década (no máximo duas), aquelas empresas familiares de transporte público, passaram a firmar-se como grandes empresas e em alguns casos grandes conglomerados, despertando inveja e ambição de muitos, incluindo ai pessoas ligadas ao órgão concedente que é o poder público.

Políticos que se achavam no direito de pedir dinheiro aos empresários do setor por entender que esses enriqueceram graças à concessão permitida, forçavam os empresários tirar do próprio povo usuário, via aumentos sucessivos das tarifas. Já os empresários, por sua vez, temerosos de que o apetite dos mandatários fosse cada vez mais voraz, (que normalmente é) necessitavam de não deixar muito claro a fatia de lucro a eles inerente, até porque, corriam o risco de ter que repartir o bolo como se fosse uma sociedade.

Foi ai que os empresários que melhor se organizaram introduziram no sistema, e goela abaixo do poder público, a engenharia pitagoriana da tal Planilha de Custos. Isso ocorreu aproximadamente na década de 70, ou seja, 40 anos atrás.

Num primeiro momento essa manobra foi até boa para os usuários, pois os empresários mais sérios, mesmo tendo que apadrinhar alguns políticos, não queriam inviabilizar o sistema a ponto de serem obrigados a cobrar tarifas impraticáveis para atender o apetite de alguns prefeitos. A planilha servia nessa primeira fase como instrumento regulador dessa odiosa demanda.

Como tudo na vida que se torna viável e lucrativo, óbvio que a engenharia das Planilhas de Custos também foi utilizada como eficiente método de maquiar lucros excessivos, sujeitos a tributação e redistribuição. A ponto de levar a uma família do setor, constituir uma das maiores empresas aéreas do Brasil, como foi o caso da família Constantino que administra o transporte coletivo urbano de quase a metade de país.

O pior é que tudo é financiado a custa do suor da população que vive na base da pirâmide social

Não estamos mais no Brasil dos anos 30. Ninguém precisa mais ser recompensado pelo pioneirismo. O Ministério Público hoje já é bem organizado e capacitado para estancar o apetite dos políticos que tentarem extorquir o setor.

Para o bem de todos, especialmente dos usuários, precisamos acabar com o monopólio do setor, permitindo a entrada de pequenos concessionários do serviço, que deverão cobrar do poder concedente por quilômetro rodado e não por aplicação de planilha de custos. Os prestadores devem ser contratados via licitação na modalidade pregão eletrônico, impulsionando assim para um serviço de excelência por um preço justo e transparente.


A nova ordem mundial exige mudanças de paradigmas para preservação do planeta, e uma delas é atrair as pessoas para o transporte público. Para isso o sistema não pode mais ser tratado como um cartório sob o poder de meia dúzia de famílias.



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