Coisas e Coisas
O CINEMA SEGUNDO JOSÉ FONSECA E COSTA
No caderno dominical do
Público de hoje vem uma entrevista concedida pelo realizador Fonseca e Costa ao jornalista Adelino Gomes. Como pano de fundo, a recente estreia do seu filme
O fascínio. Algumas ideias surgidas na entrevista são importantes para a análise no sector. Primeiro, a faixa etária principal do público que assiste a filmes ronda os 15 a 25 anos. Depois, para o caso dos Estados Unidos, 35% das receitas de um filme são feitas em sala; o restante vem de outros campos: DVD, televisão, canais por cabo.
Sobre o mercado português, o realizador destaca as alterações profundas no mercado, que levaram a que as salas fossem sendo compradas pelas multinacionais, que exploram fundamentalmente o cinema americano e não financiam outras cinematografias. Um distribuidor funciona com pacotes de filmes. Fonseca e Costa lembra a distribuição de um seu filme anterior,
Cinco dias, cinco noites, o qual não teve acesso ao circuito das salas da Lusomundo, grupo que representava então 70% dos cinemas do país. Contra isto, está a funcionar a iniciativa comunitária Media, conjunto de cinemas dos vários países e cidades da União Europeia que "passam" o cinema europeu. O realizador acha que se deve alterar a regulação do mercado. E lembra a lei americana, de 1947 (lei Paramount, anti-trust), que impede os distribuidores de serem detentores de salas acima de um determinado número, assegurando, assim, a existência de exibidores independentes.
À pergunta sobre se o cinema é uma arte ou um negócio, Fonseca e Costa entende que se trata de arte feita com meios tecnológicos caros e produzida por uma indústria poderosa. O cinema é uma indústria e o filme uma obra de arte.
O filme
O fascínio é uma adaptação do romance do escritor brasileiro Tabajara Ruas, mas com acção transposta para o Portugal actual. Um dia, Lino Paes Rodrigues chega ao seu escritório de empresário imobiliário e abre uma carta pessoal. A sua vida mudaria: um tio-avô, de quem estava afastado por zanga antiga, deixara-lhe uma grande herdade perto de Elvas, como herança.
José Fonseca e Costa, nascido em 1933, em Angola, começou por estudar Direito, que abandonou ao enveredar pela actividade cinematográfica após frequentar o ambiente cineclubista, como sócio do Cine-Clube Imagem. Estreou-se com a longa-metragem
O Recado (1971), a partir de argumento seu, repleto de referências ao ambiente fechado (e policial) vivido no Portugal do início dos anos 70. A presença da actriz Maria Cabral contribuíu para a obtenção de algum sucesso comercial. Mais tarde, aposta num modelo narrativo tradicional, com
Kilas, o mau da fita, em 1980, um dos maiores êxitos comerciais do cinema português. Em 1982, filma
Sem sombra de pecado, a partir de uma novela de David Mourão-Ferreira. Era a adesão ao modelo europeu da co-produção e internacionalização de elencos e equipas técnicas. Em 1986, adapta ao cinema o romance de José Cardoso Pires,
A balada da praia dos cães. Após outras obras, regressaria em 1996, com
Cinco dias, cinco noites, co-produção luso-francesa com base numa obra de Álvaro Cunhal, filme que não passaria nos cinemas da Lusomundo, como se escreveu acima, mas que teve um bom sucesso na época (os elementos da cinematografia de Fonseca e Costa foram recolhidos no site do Centro de Língua Portuguesa/ Instituto Camões).
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