Coisas e Coisas


ANTÓNIO MARIA, DE RAFAEL BORDALO PINHEIRO

Fez há dias 125 anos que o jornal de humor António Maria foi lançado, como recordou o diário Público recentemente, em texto assinado por João Manuel Rocha. Era um jornal de "oposição declarada aos governos, e oposição aberta e sistemática às oposições, o que não o impossibilita de ser amável uns dias por outros, e cheio de cortesia em todos os números"(imagens recolhidas no sítio Vidas Lusófonas).

O título do jornal vinha do nome do primeiro-ministro da época, António Maria de Fontes Pereira e Melo. Publicou-se em duas séries (1879-1885, 1891-1898) e seria a expressão do grande caricaturista, cartoonista e ceramista, famoso pelo seu Zé Povinho (aparecido em 1875).




O António Maria seria considerado o mais rico título de todos os jornais, segundo José Augusto França, que estudou a obra do caricaturista e ceramista (Rafael Bordalo Pinheiro, o português tal e qual). Seria um olhar crítico e mordaz sobre a segunda metade do século XIX português. O António Maria teria uma boa aceitação, com caricaturas, cartoons e histórias aos quadradinhos [quadrinhos no Brasil].

Rafael Bordalo Pinheiro nasceu em Lisboa a 21 de Março de 1846. Teve uma grande atracção pelo teatro, começando como actor dramático aos 14 anos. O tema do teatro virá sempre à baila nas críticas humorísticas, nos figurinos, nos cenários e nas capas de programas. Após vários anos de actividade, caso do Lanterna Mágica, com as suas histórias aos quadradinhos, parte para o Brasil, em Agosto de 1876. Colabora nomeadamente nas revistas O Mosquito e Psit!!!, regressa a Portugal em 1879, ano do nascimento da revista que tem o título desta mensagem. O autor faleceria em 1905, na cidade que o vira nascer. Para além do museu de cerâmica nas Caldas da Rainha, há outro museu a ele dedicado, em Lisboa.

O exemplo de Rafael Bordalo Pinheiro foi contagiante, como escreve António Dias de Deus (Os comics em Portugal. Uma história da banda desenhada. Lisboa: Livros Cotovia e Bedeteca de Lisboa, 1997, p. 49). Florescem cartoons e comics e multiplicam-se as revistas humorísticas, em cidades como Porto, Viseu, Ponte de Lima e Ponta Delgada (Açores).

MANUEL ALEGRE, OS JORNAIS E O FUTEBOL

Manuel Alegre, escritor, poeta e político, escreve hoje em dois jornais, no Público e no El Pais, sobre o jogo de futebol entre Portugal e Espanha, logo ao fim do dia. No Público, conclui com: "E a festa continua. Festa a sofrer. Recordemos Miguel Torga, que também gostava de futebol: «Terra nua e tamanha / Que nela cabe o Velho-Mundo e o Novo / Que nela cabem Portugal e Espanha / E a loucura com asas do seu povo». Esperemos que as asas sejam lusitanas. Parvoíce? E depois? Deixem-nos gozar a festa. A sofrer, que é melhor".

Já no El Pais, recorda: "Em 1947, em Lisboa, Portugal ganhou por 4-1. Salazar, que acreditava [quería] que todos os portugueses desconfiassem de Espanha como ele, celebrou a vitória como um facto histórico. Mas com as ditaduras estivemos sempre a perder, ainda que [quando] uma das nossas selecções ganhasse [ganaba] à outra, Portugal uma única vez e a Espanha muitas mais". E, mais à frente, usa um poema de Antonio Machado: "Esta noite, quando dormia, / sonhei, bendita ilusão, / que o meu Portugal vencia, / Espanha do meu coração".

Inteligente forma de estilo, a agradar às audiências a que se destina.

ROY LICHTENSTEIN NO MUSEU RAINHA SOFIA (MADRID)

Dizem os espanhóis que será um dos principais acontecimentos culturais deste Verão. A exposição do pintor da pop estará aberta ao público de 24 de Junho a 27 de Setembro nas novas salas de cristal do Museu, desenhadas pelo arquitecto francês Jean Nouvel.


Conhecido habitualmente como o pintor da banda desenhada, Roy Lichtenstein nasceu em Nova Iorque em 1923. A revista americana Life chegou a classificá-lo como "o pior artista dos Estados Unidos". Ele fez parceria com outros pintores como Warhol, Oldenburg e Rosenquist, o núcleo mais significativo da pop-art, que se inspirou em imagens da cultura popular de massas (cartazes, anúncios, embalagens de produtos alimentares). Considera-se que Lichtenstein foi o mais radical, ao usar a imagem das vinhetas dos comics [imagens retiradas do sítio Roy Lichtenstein Archive].


O Museu fica na Plaza Santa Isabel, 52 (Madrid).



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