Coisas e Coisas


"A JORNALISTA EM QUESTÃO"

Anteontem, escrevi sobre os provedores do leitor. E coloquei as seguintes questões no final da mensagem: será que os provedores (também) são parciais? E (mais) permeáveis aos leitores? Quer o provedor José Carlos Abrantes quer a jornalista Diana Andringa não gostaram das perguntas; eles têm o seu direito crítico [que saudo, conhecendo-os]. Felizmente o provedor e os leitores do Público não leram o meu pequeno contributo. Senão, eu pareceria um elefante (desastrado) numa loja de cristais.

Curiosamente, a coluna de hoje de Eduardo Prado Coelho, no Público, foca o assunto da página de ontem do provedor do Diário de Notícias, com o título que aparece no topo desta mensagem. Mas comete, a meu ver, um erro lamentável. Não se refere uma só vez ao texto inicial da jornalista Inês David Bastos, seguindo somente o conteúdo da página do provedor. O professor da Universidade Nova, do departamento de Ciências da Comunicação - grande especialista em semiótica e introdutor do estruturalismo e do pensamento pós-moderno em Portugal -, sabe que se deve fazer crítica sobre os originais e não sobre as versões que partem do original. E é interessante o modo como aprecia os agentes sociais da página: sobre José Carlos Abrantes diz que este teve o "arrojo de escolher um caso paradigmático de uma jornalista do seu jornal"; sobre a jornalista escreve sobre a sua "comovedora ingenuidade" e "santa ingenuidade". Isto são puros juízos de valor.

O que me preocupa mais no texto é quando escreve sobre "diversos pactos com os leitores" a serem feitos pelos jornalistas [estou a descontextualizar], e, em especial, quando faz uma afirmação sobre os blogues. Para ele, "um jornal não é um blogue". Perguntas a fazer: os blogues não prestam? Só a sua coluna diária é que tem legitimidade? Coloca a jornalista a nível de um bloguista? Mas os jornalistas já não usam os blogues para expressarem os seus pontos de vista, e pelos vistos até são criticados por dizerem o que não conseguem escrever no jornal?

Eduardo Prado Coelho tem um público fiel - de entre o qual eu me incluo - logo, pode ser lido por mais de 50 mil leitores (a tiragem do jornal). Deve ter algum cuidado nas matérias que escreve. Uma vez, há já muito tempo, vi-lhe um comentário a uma conferência de um autor de jornalismo, vindo de fora do país, que não correspondia ao que fora dito nesse espaço; o cronista lera apenas o relato do jornalista e enviesou, assim, a crítica. Do mesmo modo que aqui me insurgi contra o texto de Joaquim Manuel Magalhães, editado em 5 de Junho último no jornal Expresso, a propósito da Antena 2, quero aqui expressar a minha dúvida quanto à isenção do registo do professor sobre a jornalista. É preciso ler o que a jornalista escreveu no texto de 14 de Junho e, só depois, ler o que aparece escrito no jornal de ontem. Faz parte do bom senso.



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