Coisas e Coisas
CARTAZES DA I GUERRA MUNDIAL EM EXPOSIÇÃOAté 4 de Setembro, encontra-se patente na Biblioteca Nacional uma exposição dedicada a cartazes feitos durante a I Guerra Mundial. Como escreve logo no começo da sua apresentação Diogo Pires Aurélio, o director da BN, "Na história do século XX, um dos capítulos mais impressionantes e ao mesmo tempo mais perturbadores é, sem dúvida, o capítulo dedicado à propaganda política, onde o cartaz desempenha um papel pioneiro. A propaganda, evidentemente, existiu sempre e é mesmo intrínseca a toda a acção política".
São 256 cartazes que constam do catálogo, datados de 1914 a 1923, relacionados ou aparentados à I Guerra Mundial, e que são parte de uma valiosa colecção da Biblioteca Nacional, doada (excepto três) por Abílio Pacheco Teixeira Rebelo de Carvalho, em 1977. As imagens desta mensagem foram retiradas do sítio da
Biblioteca Nacional, sendo a da esquerda pertencente a Howard Chandler Christy (1918), que desenhou "mulheres jovens, alegres, despreocupadas, mas nem por isso menos conscientes do seu dever para com a Pátria" (António Ventura, Universidade de Lisboa, em texto no catálogo). O cartaz representa uma delas, vestida de marinheiro, que, com ar atrevido, diz: "Quem me dera ser homem! Alistava-me na Marinha!". Já o cartaz da direita, de Eugénie de Land (1917), representa um apelo aos imigrantes americanos para que não esqueçam a terra que os acolheu e apoiem a participação do país na guerra.
Na colecção, conforme ainda escreve António Ventura, existem "dois núcleos muito fortes: os cartazes americanos, com 145 espécimes, os franceses, com 103, e depois, menos representados, os ingleses, com apenas três, italianos, com um, e portugueses, com quatro". Um dos temas mais representados é o da subscrição dos empréstimos de guerra, nomeadamente a compra de War Savings Stamps, iniciativa do departamento do Tesouro norte-americano. Organizações específicas publicariam os seus próprios cartazes, como a National League for Women's Service, a Young Men's Christian Association e a Young Women's Christian Association.
Nestas duas outras imagens, a da esquerda pertence a Adolph Treidler (1918), ao passo que a da direita é de A. Baptista (1923). Esta última é um apelo a uma homenagem aos soldados portugueses caídos na frente da batalha de La Lys, também conhecida por batalha de Armentières, a principal participação das nosssas tropas na I Guerra Mundial, ocorrida a 9 de Abril de 1918 (e cujas homenagens se prolongaram quase até à II Guerra Mundial).
A exposição agora patente revela ainda o nascimento de uma figura iconográfica americana, hoje de valor universal, o Tio Sam (o equivalente ao nosso Zé Povinho). Num dos cartazes, lia-se: I want you for US Army. A cor (azul, vermelho e branco) “adquiriu uma conotação simbólica, patriótica na medida em que se trata das cores da própria bandeira americana” (Rui Afonso Santos, Museu do Chiado, em texto no catálogo).
Curioso, e para finalizar, que o cartaz fora, até 1914, de uso comercial quase exclusivo. Em França, artistas como Manet, Daumier e Toulouse-Lautrec produziram cartazes, cuja estética nos impressiona ainda hoje. Nesses artistas havia uma grande formação académica, como lembra Maria da Graça Garcia, ainda no catálogo da exposição. Já nos Estados Unidos, a I Guerra provocou uma autêntica eclosão do cartaz, que tendiam para "a simplicidade e a eficácia, através do sintetismo da expressão gráfica e da utilização de cores fortes" (Graça Garcia).
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