Coisas e Coisas
TAMBÉM ME RENDI À WANDA
Vi ontem o filme de Barbara Loden, realizado em 1970. Filme seco e duro, mostra
Wanda, uma "mulher lenta", como diz o gerente de uma fábrica de confecções para lhe negar a admissão ao emprego. Mulher passiva, como li na imprensa de fim-de-semana e que Eduardo Prado Coelho, na sua coluna diária no Público, retomaria nesta mesma segunda-feira.
Mas quem fez
Wanda? Como a realizadora não é conhecida, todo o mundo acrescenta, como se fosse um novo nome no bilhete de identidade: mulher de Elia Kazan. E na folha volante, distribuída no cinema King, pode ler-se: "Alguns dariam a obra inteira de Elia Kazan pelo único filme realizado pela mulher Barbara Loden. WANDA (1970) continua a ser um filme desconhecido apesar de oferecer o retrato mais perturbador do cinema dos anos 70, com as mulheres sob a influência de Cassavetes. É um tiro sobre o romantismo glamorouso de Hollywood, um negativo violento de todos os Bonnie and Clyde do mundo. a personagem de Wanda permanece uma figura magnífica" (Stéphane Delorme,
Cahiers du Cinéma).
Acrescentaria eu: vê-se uma América sórdida, suja, um ambiente deprimente como que saído da Depressão de 1929, com a loucura ou a ausência de perspectivas a rondar as pessoas. Mas o filme é mais moderno que esse final dos anos loucos; ele aproxima-se dos anos da guerra do Vietname. Escritora do filme, realizadora e intérprete, Barbara Loden nasceu em Orion, na Carolina do Norte, foi viver para Nova Iorque, teve aulas de representação e acabou por entrar em
Wild River (1960), de Kazan, a que se seguiu
Esplendor na relva (1961), dirigido pelo mesmo Kazan.
Há quem encontre neste filme solitário de Barbara Loden (1932-1980) a sua autobiografia: a de mulher apagada diante do génio de Kazan e das suas polémicas políticas e estéticas. Além disso, Loden faleceria cedo, aos 48 anos, vítima de cancro.
Por mim, Wanda virou filme de culto.
Mais leituras: clicar no sítio Objectif Cinéma.
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