Coisas e Coisas


PASTÉIS DE NATA

Perguntarão: que têm a ver pastéis de nata com indústrias culturais? Nada. Porém, têm tudo a ver com as indústrias culturais. Primeiro, porque são gostosos, e, depois, porque fomentam formas de levar a cultura gastronómica para longe da sua região de origem e alargam o turismo, uma indústria cultural aqui pouco trabalhada. Finalmente, porque a revista Visão dedica a parte inferior da sua capa da edição de hoje à Aventura do pastel de nata português no mundo.

Tudo terá começado aqui, em Belém, Lisboa, em 1837, como o comprovam os guarda-sóis colocados no topo das portas de entrada da loja (ver a fotografia).

1837.JPG

Para Macau, antiga colónia portuguesa na China, levou a receita um inglês, de nome Andrew Stow, antigo farmacêutico, chamando ao pastel de nata portuguese custard egg tart (tarte de creme de ovo portuguesa). É um sucesso, abrindo lojas pelo subcontinente chinês (as Lord Stow's) com os bons pastéis de nata. Mas também no Japão, onde o portuguese egg tart custa €3 cada um. Já em Londres, o negócio do pastel de nata é desenvolvido por portugueses ali emigrados. Um dos empresários diz mesmo que a nata é o produto mais conhecido na capital inglesa. E também há pastéis de nata nos Estados Unidos. Era numa das lojas de José Alberto Carloto e Arminda Carloto que Amália Rodrigues, quando se deslocava aquele país, costumava deliciar-se com esses bolos.

Confesso-me um fã dos pastéis de nata. Só que eles representam dois problemas: engordam (coisa que definitivamente não entra em mim) e aumentam o colesterol (coisa que definitivamente entra em mim). Resultado: quando fechar este blogue, por falta de matéria, vou abrir uma fábrica de pastéis de nata, um negócio doce e de futuro. Obrigado, revista Visão, por me ter dado uma pista profissional.

Destaco na mesma edição da revista, o longo artigo sobre os filmes de Charlot, em exibição agora em cópias novas, e a coluna de João Mário Grilo. Escrevendo sobre o cinema e a situação na Cultura, assim como a nova lei do cinema (que acha que não vale nada), o articulista quase que conclui do seguinte jeito: "A programação da RTP é uma sequência imparável de enlatados, concursos e talk-shows (iguais aos outros), com níveis de produção ridículos, sobretudo considerando - medidas todas as «milagrosas recuperações» - tudo o que a empresa continua a custar". Isto depois de referir que não sabe se prefere uma empresa grandemente deficitária (a situação anterior da RTP) ou uma televisão "grandemente insignificante". Pior comentário do que este acho que não há!



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