Coisas e Coisas


SOBRE OS CULTURAL STUDIES (CONT.)

Codificação/descodificação

Neste blogue, já chamei a atenção para um livro de Stuart Hall, um dos pais fundadores dos cultural studies, editado o ano passado no Brasil, com o título Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Vou agora seguir uma entrevista por ele dada e publicada na mesma obra, em que Hall destaca a génese do artigo, apresentado num colóquio da Universidade de Leicester, onde vigoravam modelos empíricos tradicionais como a análise de conteúdo e a pesquisa dos efeitos na audiência.

Teve, pois, um primeiro sentido provocatório, o qual considera que qualquer mensagem não tem um aspecto transparente, único, como ensina a teoria matemática da informação. O segundo sentido vem na sequência, e é o do contexto político. Trata-se da ideia que o significado não é fixo, não existindo uma lógica determinante que permita decifrar o significado. O sentido passa a ser multirreferencial, num reflexo directo da influência da semiótica nos cultural studies.

Hall acha que o lado da descodificação está formulado de modo bem inferior ao da codificação. O que ele tentou fazer foi trabalhar a noção de que não existe um significado fixo único. Assim, não haverá uma leitura fixa. Depois, há o oposto disto, a leitura oposicionista, que entende ou não o sentido preferido na construção da mensagem, mas retira do texto exactamente o oposto. Finalmente, ele fala do sentido negocial, que quer dizer um número diferente de posições (de interpretação). As leituras negociadas serão, provavelmente, as de maior número e elaboradas na maior parte do tempo.

O que constituem as audiências? Estas compartilham alguns referenciais do entendimento e da interpretação, alguns referenciais de leitura. Ler nesse sentido não é apenas o indivíduo dos "usos e gratificações". Não se trata de uma leitura puramente subjectiva: ela é compartilhada, possui uma expressão institucional, relaciona-se com o facto de que uma pessoa faz parte de uma instituição.

Tal leva Stuart Hall a falar em leitura preferencial. Ela é um modo determinante, quer dizer que, se uma pessoa detém o controlo dos aparelhos de significação do mundo e o controlo dos meios de comunicação, essa pessoa escreve os textos. Mas uma leitura preferida nunca é completamente bem sucedida - permanece um exercício de poder na tentativa de hegemonizar a leitura da audiência. E conclui que se uma pessoa tem uma leitura preferencial isso quer dizer que já pré-estruturou as descodificações que provavelmente conseguirá.



loading...

- Media, Cultura, Trabalho
Toby Miller (2008) considera que, no estudo dos media e da cultura, deve considerar-se igualmente a questão do trabalho. Os estudos dos media estão dominados por três tópicos: 1) propriedade e controlo, 2) conteúdo, 3) audiências. Miller propõe...

- Teoria Dos Media, Teoria Da ComunicaÇÃo
Hesmondhalgh e Toynbee (2008) distinguem a teoria da comunicação e a teoria dos media. A chamada teoria da comunicação origina-se no desenvolvimento da pesquisa nos Estados Unidos, frequentemente designada como investigação administrada (teoria...

-
SOBRE A RECEPÇÃO DOS MEDIA Pretendo hoje concluir uma espécie de trilogia sobre a produção e a recepção do discurso televisivo com uma reflexão de um capítulo do livro de Shaun Moores (1993), Interpreting audiences. Moores começa por referir...

-
SOBRE UMA ENTREVISTA DE RITA FIGUEIRAS Com livro apontado para sair este ano na editora Livros Horizonte (colecção CIMJ), Os opinion maker na imprensa de referência portuguesa 1980-1999, Rita Figueiras foi entrevistada no número mais recente da...

-
CULTURAL STUDIES [a partir de: Armand Mattelart e Érik Neveu (1996). Les cultural studies. Réseaux, nº 80] Em finais do séc. XIX, preconizava-se o ensino da literatura inglesa nas escolas do Estado, de forma a transmitir valores morais e cívicos...



Coisas e Coisas








.