Coisas e Coisas
LAZARSFELD VISTO POR DAVID MORRISON (III)
[conclusão do texto iniciado em 22 e continuado em 24 deste mês]
Investigação crítica versus administrativa
A presença física de Paul Lazarsfeld no centro da indústria da comunicação deu-lhe vantagens na exploração de novas oportunidades. Mas a sua associação aos negócios trouxe-lhes críticas. Um deles foi C. Wright Mills. Lazarsfeld não compreendia: “estas pessoas são generosas com os seus apoios financeiros à investigação, permitem-me colocar questões; por isso, tivemos a oportunidade de fazer o Decatur study”. Este Decatur Study refere-se ao trabalho seminal de Katz e Lazarsfeld
Personal influences (1955), onde nasceu o modelo de
dois patamares de fluxo no processo de comunicação. Mills trabalhava nele mas Katz libertou-o. O estudo de Decatur mostrava que os media não tinham influência na opinião – algo que os clientes das revistas não gostariam de ouvir.
Isto levou Lazarsfeld e colegas a encontrar uma influência, que vinha não directamente dos media mas por
influências pessoais através dos líderes de opinião no celebrado modelo de dois níveis. Este é o caso clássico de como se trabalha para a indústria, levantando problemas que precisam de obter respostas e, então, tornar-se conhecimento geral. Neste período, Lazarsfeld enredou-se não com a actividade comercial mas com as agências governamentais, de modo a dar um perfil significativo à investigação em comunicação. Tornou-se o paradigma dominante da investigação de comunicação, nomeadamente a pesquisa dos efeitos.
Comunicação de massa e indústria dos media
Desde o começo, a investigação da comunicação de massa não dependia apenas da cooperação e financiamento da indústria dos media, mas também a comunicação académica sustentava a indústria.
O que a Fundação Rockfeller estava interessada era na expansão qualitativa da radiodifusão e no desenvolvimento da rede de rádio ao serviço do país.
À Fundação preocupavam os interesses muito próximos entre a rádio e a indústria da publicidade. O projecto da Fundação pode ser aferido por um memorando que reuniria uma conversa entre Marshall e Stanton, então na divisão de investigação da CBS antes de se tornar o seu presidente.
Mais importante a este respeito era a relação que crescia entre a indústria e as agências de publicidade e os compradores de tempo publicitário. É um facto que uma das cadeias nacionais se viu obrigada a reduzir a investigação de modo a manter boas relações com as agências de publicidade que actuavam como intermediários dos patrocinadores na compra de tempo.
Os dados que a estação estava a recolher eram contrários a alguma da argumentação pela qual as agências vendiam tempo. Para manter as suas relações lucrativas com as agências, a estação emissora tinha apenas a possibilidade de desistir da investigação.
Marshall notava que a indústria tinha relutância em apoiar a investigação em profundidade devido a considerações comerciais. Também Cantril, numa nota que enviou para a Fundação (1936? 1937?), dizia respeito ao não interesse, por parte da indústria, em querer saber o que é que o ouvinte faz enquanto ouve. Embora seja importante compreender o comportamento do ouvinte, os radiodifusores não estavam interessados porque não tinham recursos que indicassem que as pessoas faziam alguma coisa mas ouviam apenas a rádio. A indústria também temia que os resultados fossem diferentes do expectável.
Leitura: David E. Morrison (2001). "The historical development of empirical social research". In Graham Roberts e Philip M. Taylor (eds.)
The historian, television and television history. Luton: University of Luton Press, pp. 9-23
loading...
-
Elihu Katz
Só agora li o texto de Elihu Katz (אליהוא כ"ץ) sobre a leitura da recepção a partir da teoria dos efeitos limitados de Paul Lazarsfeld (original de 1989). Nascido em 1926, o primeiro livro de Katz foi feito em co-autoria com Lazarsfeld (Personal...
-
LiÇÕes De Sociologia De Theodor W. Adorno
Foi o último curso que Theodor Adorno (1903-1969) deu (17 aulas, de 23 de Abril a 11 de Julho de 1968). O texto apenas existia em fita magnética, pois o autor não redigira as aulas mas apenas o esquema delas (daí os sinais de improvisação que se...
-
Paul Lazarsfeld E A História Da Inovação Educacional
A história da inovação nos últimos 500 anos é bastante instrutiva, escreve Morrison (2001). Cada século daria origem a pontos distantes de mudança. Assim, no séc. XVI, deu-se a integração dos estudos humanísticos, o novo ensino, a universidade....
-
LAZARSFELD E MERTON (texto de 1948)
O programa do texto é o seguinte: 1) investigar o que se sabe a respeito dos efeitos, 2) examinar a propriedade e estrutura dos media, 3) ter um conhecimento relativo aos efeitos dos conteúdos particulares (p....
-
LIVRO DE JOÃO PISSARRA ESTEVES
[João Pissarra Esteves (org.) (2002). Comunicação e sociedade. Lisboa: Livros Horizonte e CIMJ, 159 páginas]
Professor na Universidade Nova de Lisboa, João Pissarra Esteves reuniu um conjunto de textos marcantes...
Coisas e Coisas