Coisas e Coisas


CADEIA DE MUSEUS GUGGENHEIM

O mecenas principal do Guggenheim, Peter Lewis, presidente do conselho de administração do museu, afastou-se do cargo e, em simultâneo, deixou de o financiar. Em artigo assinado por Corine Lesnes, saído na edição de hoje-amanhã do Le Monde, a jornalista explica as razões da saída de Lewis, cuja fortuna foi obtida a partir de uma companhia de seguros de automóvel em Cleveland, no estado americano de Ohio.

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[as imagens representam as fachadas dos museus Guggenheim, na 5ª avenida em Nova Iorque, e em Bilbau]

Uma luta de homens, duas visões

Se Peter Lewis queria que o Guggenheim se concentrasse essencialmente no edifício redondo de Frank Lloyd Wright, inaugurado em Nova Iorque em 1959, ano da morte do arquitecto - e para o qual Lewis disponibilizou, o ano passado, 15 milhões de dólares apenas para a renovação da escada em espiral -, o gestor Thomas Krens tem outra visão. Krens, especialista em história da arte mas também diplomado pela escola de gestão de Yale, onde ensina gestão das instituições culturais, e dirigente do Guggenheim há 17 anos, promoveu o conceito de multinacional de artes plásticas, ao criar "sucursais" do museu em Bilbau, Veneza, Berlin e Las Vegas (o projecto do Rio de Janeiro está atrasado). Ele tem sido ainda responsável por exposições que causam espanto, caso da arte dos motociclos e da roupa Armani, enquanto a galeria permanente de Kandinski alberga presentemente uma exposição sobre o império azteca.

Com um financiamento de 77 milhões de dólares, Lewis tornou-se o maior mecenas do Guggenheim desde sempre. E tem-se oposto à ideia de cadeia de museus franchisados Guggenheim, projecto de Krens. Além disso, nos últimos anos o que estava em jogo era uma redução das despesas e a dispensa de pessoal (quase metade dos 380 empregados). A crítica nos jornais não se fez esperar, acusando-se o museu de gastar mais na arquitectura e menos nas artes.

O museu de Bilbau está a ser um sucesso, com um milhão de entradas por ano, e com contributos financeiros privados e do estado basco. Mas os outros projectos da cadeia de museus não tem tido este êxito: um segundo museu em Nova Iorque, no Soho, fechou em 2001, por falta de visitantes. Falta de visitantes também tem ocorrido no museu criado no casino de Las Vegas (onde se expõem obras emprestadas do museu de Ermitage, de São Petersburgo, da Rússia) e em Berlim, onde se apresentam as colecções do Deutsche Bank. Apesar destes insucessos, há novas candidaturas, caso de Guadalajara, no México, que quer copiar o êxito de Bilbau, e Taiwan, com uma postura mais política. Cada cidade candidata - continua a ler-se no texto do Le Monde - tem de possuir um financiamento próprio. A fundação Guggenheim factura um direito de franchise inicial e, eventualmente, royalties anuais.

Agora que o museu está sem o seu mecenas principal e ainda se não recuperou a perda de 20% de visitantes após os atentados de 11 de Setembro de 2001, é tempo de grande reflexão no Guggenheim. No museu idealizado por Solomon R. Guggenheim parece que venceu a perspectiva de Thomas Krens. Será por muito tempo?




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